A Crise Americana
O presidente Jânio Quadros, em 1961, no seu modo de governar por bilhetinhos, escreveu um a seu Secretário Particular José Aparecido, quando os jornais davam que existia uma grande crise, que dizia mais ou menos o seguinte: “Senhor José Aparecido. Leio nos jornais que existe uma grande crise. Determino a Vossa Excelência localizá-la e dizer a esta Presidência onde ela se encontra. ass. Jânio Quadros.” Nesse tempo as crises podiam estar escondidas. Hoje, com a globalização, elas não são crises localizadas, são de todo o mundo, embora seja mais intensa em alguns lugares que noutros. A crise de agora se torna de grande dimensão e sem perspectiva de que seja breve. Ela começou nos Estados Unidos no 11 de setembro, com a derrubada das Torres Gêmeas. O presidente Bush, radical de direita, em vez de aproveitar a onda de solidariedade mundial para construir um plano global com a participação de todos, por motivos políticos internos — ganhar popularidade — e pessoais — vingar a ameaça de Saddam Hussein de matar seu pai — resolveu optar pelo caminho da guerra, invadindo o Iraque por um motivo inventado que foi comprovado não existir, as tais armas de destruição de massa, e invadindo o Afeganistão, ao mesmo tempo que desencadeava no mundo inteiro uma campanha de medo e modificava as leis de liberdades civis. Construiu cadeias no mundo inteiro, a mais conhecida, a de Guantánamo. O resultado foi que os Estados Unidos, que gozavam de uma era de prosperidade econômica e estabilidade fiscal, começaram a gastar nessas guerras infindas — mais de 3 trilhões de dólares até agora — e passaram a dever muito mais do que podiam e hoje estão enforcados nessa dívida. Daí à crise econômica interna foi um passo. A farra dos derivativos de especulação derrubaram bancos e seus efeitos se espalharam pelo mundo. Hoje, a Europa está mergulhada em recessão e desemprego, buscando salvar-se numa volta à ortodoxia econômica, acabando o estado de bem-estar social. As populações reagem e o movimento do “indignai-vos”, lançado pelo velho combatente francês, de 96 anos, Hessel, levanta os jovens impulsionados pela internet. O Oriente Médio é varrido pelas revoluções populares que acabam jugos absolutistas e em todos os lugares do mundo as economias estão em estado de alerta. As bolsas de valores iniciam um ciclo de volatilidade de que não se vislumbra o horizonte final. O Brasil está bem preparado para evitar danos maiores. Nossas reservas são altas e o mercado interno é cada vez mais forte. A Presidente Dilma já deu mostras de que sabe comandar com mão firme e conhecimento dos problemas. Cautela e água benta não fazem mal a ninguém. Como saímos bem em 2009, nossa perspectiva hoje é de construir barreiras para que os ventos de fora não derrubem nossas árvores.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
jose-sarney@uol.com.br
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