segunda-feira, 14 de junho de 2010

José Sarney

Falta batom na política

Direta ou indiretamente, sempre tivemos as mulheres no comando da sociedade, com suas extraordinárias inteligências intuitivas e seus espíritos conciliadores. Como irmãs, mães, tias, esposas, sogras ou amantes, ficavam no papel de "algodão entre cristais", tentando conter os ímpetos guerreiros dos irmãos, filhos, sobrinhos, maridos, genros e namorados. Talvez tenha sido por causa delas que a humanidade tenha sobrevivido a si mesma. E ainda sempre serviram de inspiração para os homens apaixonados, os corações sensíveis, os artistas. A poesia galaio-portuguesa é plena de exemplos de cantigas de bem-querer que exaltam essa melhor criação de Deus, a mulher. Mas, ao longo da História, a violência, infelizmente, também foi uma triste constante no universo feminino. E como hoje vivemos numa "era de extremos", como bem analisou o historiador Eric Hobsbaum, a violência contra elas também aumentou. A ONU recomenda que governos incluam estratégias culturais orientadas ao desenvolvimento e à igualdade da mulher. E destacou a lei brasileira "Maria da Penha". É um esforço e um reconhecimento extremamente relevantes. Conscientizar os homens é necessário, sim. Lembro-me quando criei o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, em 1985. Não foi um gesto paternalista, mas o atendimento à reivindicação de se criar, junto ao governo federal, um organismo voltado especialmente para a mulher, com o objetivo essencial de captar os anseios das mulheres brasileiras e de defende-las. Mas, a verdade é que as coisas só irão mudar estruturalmente quando tivermos mais daquele espírito conciliador de mãe permeando a vida política. Falta mulher na política. Esta é a verdade. Mulheres competentes e batalhadoras já temos muitas. A própria Maria da Penha, Dilma Roussef, Heloisa Helena, Rita Camata, Roseana Sarney, Dalva Figueiredo, Fátima Pelaes, Ana Júlia Carepa e tantas outras, que estão melhorando nossas instituições e os hábitos políticos. Mas precisam mesmo é estar no poder. Mulher parece não temer nada. Dá sentenças, governa, legisla, comanda empresas, maneja o bisturi, apita partidas de futebol, pilota Boeing, prende bandido, decide. Em São Paulo, metade do contingente de trabalhadores é formada por mulheres. Elas competem com eficiência com os homens pelas vagas. Mas, insisto: ainda é pouco. Falta mulher na eleição, falta batom no comando. No encerramento da Convenção Nacional do PMDB, que ratificou Michel Temer como o vice de Dilma Rousseff para a Presidência, neste sábado, em Brasília, a tônica foi justamente esta. Sentimos que estamos prestes a ter uma mulher na Presidência da República. E o PMDB vai participar dessa vitória.

José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa

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