Na abertura do seminário "Política e Novas Mídias - A nova comunicação entre parlamentares e cidadãos", que está sendo realizado nesta terça-feira (14), o presidente do Senado, José Sarney, disse que a instituição busca, por meio de seus veículos de comunicação, não fazer propaganda, mas mostrar a utilidade do Senado para a população brasileira. Nesse sentido, as novas mídias configuram-se, na avaliação de Sarney, como instrumento de aproximação do cidadão com o Congresso Nacional.
- É preciso que o cidadão saiba que ele começa a ter maior participação no debate - assinalou.
Sarney afirmou que, no acelerado processo de mudanças executado pelas mídias digitais, foi alterado até o modo de o homem pensar, porque foram criadas coisas que todos os humanos julgavam impensáveis.
- Na verdade, a tecnologia mudou até o nosso modo de ser - constatou o presidente do Senado
Para Sarney, com a globalização do capital e a ampliação do alcance das novas tecnologias de informação e comunicação, o Estado tradicional está sendo substituído pelo "Estado em rede", situação em que "sentimos e pensamos como parte de um coletivo".
Segundo o senador, se hoje o cidadão consegue participar mais ativamente dos debates em pauta no Congresso, por meio dos veículos de comunicação, essa possibilidade será ampliada ainda mais nos próximos anos.
Sarney disse vislumbrar que, no futuro, o cidadão poderá, por exemplo, não apenas ser representado por parlamentares, opinar sobre os temas em discussão e votar em referendos para dizer "sim" ou "não", mas efetivamente participar do processo de votação de leis.
O parlamentar acrescentou que sempre buscou ser um homem de seu tempo e lembrou que, desde seu primeiro mandato como senador, em 1972, tem se atualizado. Como exemplo, citou sua participação na criação do Prodasen e dos veículos de comunicação do Senado.
Também participam do evento promovido pela Secretaria de Comunicação Social da Casa, especialistas em mídias digitais convidados a discutir como as redes sociais têm ajudado a consolidar um novo canal de comunicação entre o Parlamento e o cidadão.
Novas mídias: debatedores destacam limites da liberdade e da privacidade na internet
A liberdade de expressão na internet pode ser definida não pelo fato de um internauta poder visitar um blog e "esculhambar" seu dono, mas pela chance que ele tem de abrir um blog próprio e falar o que quiser a respeito do outro. A distinção entre os dois comportamentos foi apresentada pela jornalista e blogueira Cora Rónai durante o painel "Liberdade de Expressão e a Internet", do Seminário Política e Novas Mídias, realizado pelo Senado nesta terça-feira (14).
O problema, explicou a jornalista, é que as pessoas se esquecem que precisam lidar com as consequências de suas opiniões.
- A liberdade de expressão deve existir sim, mas também existe a responsabilidade legal. Você paga legalmente pelo que diz, e o que deve permear esses posicionamentos, sempre, é o bom senso. Não adianta pedir desculpas depois da ofensa - disse.
Para o blogueiro, consultor e professor Marcelo Minutti, as pessoas que extrapolam no uso das mídias sociais e da internet não têm consciência do meio em que se encontram. Às vezes se expõem sem saber, por não conhecerem a ferramenta com que estão lidando, que muitas vezes permitem determinar níveis de privacidade - caso do Twitter e do Facebook. Em sua opinião, os conflitos não se devem exclusivamente aos meios digitais ou às mídias sociais, já que estas só refletem a sociedade.
- Será que a sociedade está preparada para essa liberdade? - questionou.
Minutti e Cora Rónai opinaram que não é necessário criar novas leis para o ambiente da internet. Segundo eles, já existem muitas leis, e as que se aplicam ao meio social podem ser perfeitamente utilizadas para quem extrapola no ambiente virtual.
Jogo democrático
A diretora da Secretaria de Pesquisa e Opinião do Senado (Sepop), Ana Lucia Novelli, afirmou que é do jogo democrático alguém dizer se gosta ou não de algo e que o cidadão tem direito de expressar sua opinião por qualquer meio. Mas, para ela, também falta habilidade às instituições para lidar com essa gama de opiniões diferentes, já que o público não se divide mais apenas entre os que amam e os que odeiam algo. Há várias posições intermediárias dependendo da ocasião e do momento.
Ana Lucia mencionou ainda que as pessoas estão aprendendo a lidar com as novas ferramentas de mídia e nesse aprendizado ainda fazem confusão em relação ao espaço e ao lugar da comunicação.
- Tuitar, ainda que seja do seu quarto, não é um ato íntimo, mas sim exposição pública - observou.
Nesse sentido, o mediador do debate, Jack Correa, vice-presidente de Relações Institucionais da Coca-Cola, disse que às vezes, durante esse aprendizado, as pessoas esquecem que o direito de um termina quando começa o do outro. Ele citou uma atualização de uma frase antiga para os tempos da internet:
- O 'guarda a língua dentro da boca', hoje, virou 'tira esses dedos do teclado'.
Palestras
Antes do painel sobre liberdade de expressão, três palestrantes contaram suas experiências com a internet e as mídias sociais. Bruno Hoffmann, consultor da HoffGroup, frisou a necessidade de os políticos investirem na interação com os cidadãos, seja por meio de blogs ou pelo Twitter, por exemplo.
Segundo Hoffmann, os políticos hoje sabem que precisam das redes sociais, mas na maioria dos casos falta pensamento estratégico para fazer algo relevante. Ele se disse espantado, pois acreditava que, após as eleições, com o crescimento das ferramentas digitais, os políticos estariam mais ativos no uso das mídias sociais.
Fernando Palacios, consultor e palestrante de Transmídia Storytelling, argumentou que uma história bem contada, com a identificação do receptor com o tema, consegue mudar uma percepção desfavorável e que tal recurso deveria ser usado pelo Congresso.
- É necessário mostrar como a política afeta a vida da população, tocando-a pelo lado sentimental, mas sem impor qualquer posicionamento, somente sugerindo e pinçando casos reais, mostrando na prática como funciona.
Já Marcelo Minutti destacou o poder do celular e do smartphone - dispositivo que em sua opinião é o mais íntimo da história da humanidade. Para ele, esses canais jamais poderão ser ignorados em qualquer estratégia de comunicação de uma instituição, ainda que seja pelo envio de mensagens de texto SMS.
Elina Rodrigues Pozzebom / Agência Senado
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