Tabagismo passivo é a inalação involuntária da fumaça liberada por cigarros e derivados do tabaco (charuto, cigarrilhas, cachimbo, narguilé e outros) por pessoas não fumantes, que absorvem inúmeras substâncias prejudiciais à saúde, em quantidade menor que o fumante. No entanto, em locais fechado, a inalação de alguns produtos, como a nicotina, é ainda maior e pode até se aproximar daquela inalada pelo próprio fumante. A fumaça dos derivados do tabaco em ambientes fechados é denominada poluição tabagística ambiental (PTA). A PTA é composta pela fumaça exalada pelos fumantes (corrente primária) e aquela que sai da ponta do cigarro (corrente secundária). A fumaça direta do cigarro é muito mais nociva por não ser filtrada e nem sofrer combustão completa, o que faz com que o ar poluído pela fumaça possua, em média, três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até cinquenta vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça tragada pelo fumante ativo (site do Hospital Albert Einsten, 2013). Dessa forma, uma pessoa que não fuma, em contato com fumantes no ambiente de trabalho pode, ao final de um dia de expediente, ter inalado o equivalente a uma média de 1 a 4 cigarros. Sabe-se que o uso do tabaco é um dos maiores problemas da saúde pública, uma vez que, além de causar dependência rapidamente, está associado a doenças cardiovasculares, ao câncer, a doenças respiratórias e outras, podendo levar à morte. Segundo o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a Epidemia Mundial do Tabaco (2009), o tabagismo mata mais de 5 milhões de pessoas por ano e 94% da população mundial está exposta ao fumo passivo. No entanto, poucos sabem que o tabagismo passivo consta hoje como a terceira maior causa de morte evitável no mundo, precedida apenas pelo tabagismo ativo e o consumo excessivo de álcool, segundo dados fornecidos pela OMS. Mais de 100 mil casos anuais de câncer podem ser atribuídos ao fumo passivo e o risco de um fumante passivo desenvolver câncer de pulmão é três vezes maior do que para aqueles não expostos à fumaça. Além disso, os que respiram a fumaça alheia sofrem efeitos imediatos, tais como: irritação nos olhos, manifestações nasais, tosse, cefaleia, aumento de seus problemas alérgicos – principalmente das vias respiratórias, e aumento de problemas cardíacos – como elevação da pressão arterial e angina (dor no peito). Outros efeitos podem surgir, ainda, a médio e longo prazos: redução da capacidade funcional respiratória, aumento do risco de ter arteriosclerose e aumento do número de infecções respiratórias em crianças. O tabagismo passivo no ambiente de trabalho aumenta o risco de câncer de pulmão em 12 a 19%. Este risco aumenta com o número de anos e a intensidade da exposição. A presença de um fumante no ambiente doméstico aumenta o risco de câncer de pulmão em 20 a 30% para os não fumantes. Quando a exposição é interrompida, ocorre diminuição gradual ao longo do tempo. Diante desses dados, o governo federal criou as leis 9.294/1996 e 12.546/2011, que proíbem o fumo em recinto coletivo fechado, aplicando-se a repartições públicas, hospitais e postos de saúde, salas de aula, bibliotecas, recintos de trabalho coletivo e salas de teatro e cinema. O Decreto Presidencial 8262/2014, que entrará em vigor em novembro próximo, promoverá mudanças que aumentam ainda mais a proteção aos fumantes passivos, na medida em que expande a proibição ao uso de produtos fumígenos, que já existia para locais fechados, aos locais parcialmente fechados por paredes, divisórias, tetos, toldos ou telhados, ainda que provisórios. A Vigilância Sanitária também recomendou que os fumantes se distanciassem pelo menos dez passos de portas e janelas, evitando com isso que a fumaça possa penetrar os ambientes fechados e atingir aqueles que lá estão. É preciso, portanto, conscientizar a todos sobre esses dados alarmantes, especialmente no que diz respeito aos fumantes passivos, porque ninguém mais tem dúvida quanto aos efeitos maléficos do tabaco e seus derivados, mas nem todos conhecem os efeitos para aqueles cuja escolha é não fumar e que estão sendo severamente afetados. O problema existe e é preciso encará-lo com responsabilidade, aliando campanhas de conscientização sobre os riscos do fumo ativo e passivo, a adoção de medidas para evitar expor os demais à PTA e ações de incentivo para que o fumante possa lutar contra sua dependência, reduzindo ou interrompendo o uso.
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Por Ana Lívia Babadopulos, Jairo Alves da Silva Jr., Lúcia Cristina Pimentel e
Marina de Andrade Vahle, da Equipe do Programa de Atenção ao Uso de Álcool e
Drogas (Progad) do Senado
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