Por André Borges | Valor Econômico
Duas medidas na área ambiental que estão sendo
costuradas pelo governo devem tornar mais rápida a liberação de grandes obras
de infraestrutura, alterando a forma de atuação do Ibama. Comissão formada por
representantes da União, Estados e municípios analisa decreto que definirá qual
tipo de obra cada esfera de governo terá de licenciar, liberando o Ibama de se
envolver em milhares de pequenas operações. Além disso, serão simplificados os
estudos para obtenção de licenciamento. Em vez de exigir para todas as obras um
Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima), será pedido Relatório Ambiental
Simplificado (RAS). Como o próprio nome diz, o RAS terá uma quantidade menor de
informações, com custos mais baixos e maior rapidez para conclusão.
Volney Zanardi, presidente do Ibama: "Não
podemos continuar a usar tão mal a ferramenta de licenciamento"
O processo de licenciamento ambiental vai passar
por mudanças profundas, medidas que têm o propósito de tornar mais rápida e
eficiente a liberação de grandes obras de infraestrutura do país. Segundo o
Valor apurou, duas ações que já estão em curso terão impacto direto nas rotinas
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) e, consequentemente, na execução dos empreendimentos, principalmente
aqueles que fazem parte do pacote de concessões já anunciado pelo governo. Por
meio de um decreto que está sendo amarrado por uma comissão tripartite - União,
Estados em municípios -, o governo vai detalhar, especificamente, qual é o tipo
de obra que cada um terá que licenciar a partir de agora. A medida terá reflexo
instantâneo nas operações do Ibama, órgão que hoje gasta tempo precioso
envolvido com o licenciamento de milhares de pequenas operações. Nas
prateleiras do instituto há, por exemplo, uma série de processos de
licenciamento de hotéis e quiosques à beira-mar, apenas porque estão
localizados de frente para o oceano. Outra medida crucial, e que deverá animar
o setor privado, diz respeito aos estudos necessários para se obter o
licenciamento de cada empreendimento. Todas as obras de infraestrutura do país
deixarão de exigir, exclusivamente, a elaboração de um Estudo de Impacto
Ambiental (EIA-Rima). Por envolver uma avaliação mais complexa e aprofundada
dos impactos causados ao meio ambiente, o EIA-Rima é um relatório caro, porque
demanda tempo e um grande conjunto de especialistas para ficar pronto. Em
média, é preciso gastar cerca de um ano na elaboração de um Eia-Rima para se
obter o licenciamento de uma estrada, por exemplo. A decisão do Ibama é que, a
partir de agora, muitos empreendimentos terão de apresentar apenas um Relatório
Ambiental Simplificado (RAS). Como o próprio nome indica, esse tipo de estudo
se baseia em uma quantidade menor de informações, reduzindo custo e tempo de
conclusão. O pacote de concessões de rodovias, que engloba a transferência para
a iniciativa privada de 7,5 mil quilômetros de estradas federais, será a
primeira experiência prática do novo tratamento. O licenciamento ambiental da
BR-040, que liga Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal, e da BR-116, em Minas
Gerais, deverá ter uma série de trechos onde o Ibama exigirá apenas o relatório
ambiental simplificado. A decisão, já comunicada ao Ministério dos Transportes
e à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), foi coordenada entre o
Ibama e a recém-criada Empresa de Planejamento e Logística (EPL). Essa mesma
lógica de licenciamento valerá para todos os demais tipos de empreendimentos:
ferrovias, portos e aeroportos. O EIA-Rima continuará a ser peça fundamental do
licenciamento ambiental, mas só será exigido quando a situação, de fato, exigir
um estudo aprofundado dos impactos que serão causados pela obra. As informações
foram confirmadas pelo presidente do Ibama, Volney Zanardi. "O
licenciamento ambiental precisa mudar. O que nós pudermos tratar da maneira
mais simples, vamos tratar. Aquilo que precisar de mais aprimoramento, terá o
Eia-Rima. Estamos qualificando o processo de licenciamento ambiental, e isso já
começou a funcionar", disse Zanardi, em entrevista ao Valor. As mudanças,
segundo o presidente do Ibama, não significam que o instituto estará
facilitando a vida dos empreendedores para execução das obras. "Teremos
mais agilidade, mas isso não tem nada a ver com perda de qualidade. Você pode
ter um bom licenciamento ambiental obtido por meio de um relatório
simplificado. Por outro lado, pode chegar a um péssimo licenciamento baseado em
Eia-Rima. A questão é qualificar o que é preciso para aquela obra", disse.
"A BR-163, por exemplo, chegou a ter pedidos de licença prévia para
trechos de apenas cinco quilômetros. Há casos de Eia-Rima para a construção de
uma terceira faixa. Não podemos continuar a usar tão mal a ferramenta de
licenciamento", afirmou o presidente do Ibama. O reposicionamento do
governo no trato ambiental vai incluir ainda um tratamento específico para cada
tipo de empreendimento. Haverá um conjunto de avaliações técnicas para cada
impacto envolvido. "O licenciamento até agora era um tipo de instrução legal
geral. Agora passaremos a ter normas mais específicas para cada tipo de
projeto. Vamos cada tipologia, individualmente." Até o fim deste mês, o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) deverá apresentar proposta com
novas resoluções do licenciamento ambiental atreladas a grandes
empreendimentos, principalmente aqueles relacionados ao setor elétrico, como
construção de barragens e linhas de transmissão. Será uma reunião técnica,
limitada a especialistas do setor. A avaliação geral do conselho, que define novas
regulamentações do setor, é que o atual sistema de licenciamento ficou
ultrapassado e não acompanha a atual realidade do país. No mês passado, durante
encontro do Conama, a secretária-executiva do conselho e ex-presidente do
Ibama, Marília Marreco, citou exemplos preocupantes que precisam de uma
definição mais clara, como a instalação de torres de usinas eólicas. Para
Zanardi, o licenciamento ambiental foi transformado em um grande executor de
políticas públicas, onde a fiscalização ambiental ficou prejudicada. "O
licenciamento ficou preso em uma política de "Robin Hood", tirando de
quem tem mais para dar para quem tem menos. Não é esse o seu papel."
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