Yuri Freitas/Contas Abertas
Entre 2004 e 2012, o valor das emendas
parlamentares individuais de deputados e senadores teve crescimento real
de 278,7% – aumento de quase quatro vezes. O montante da cota era R$ 2,5
milhões naquele ano, e atualmente já alcança R$ 15 milhões. Em todo o período,
sempre houve aumento nos valores de um exercício para o outro. No entanto, o
senador Romero Jucá (PMDB-RR), relator do Projeto de Lei Orçamentária Anual
(PLOA) de 2013, manteve para o ano que vem o mesmo teto de 2012, R$ 15 milhões,
conforme relatório preliminar a ser votado nos próximos dias.
Veja aqui a
tabela com dados
Para o cientista político Octaciano Nogueira, da
Universidade de Brasília, caso a quantia não sofra acréscimo já para o orçamento
de 2013, certamente irá aumentar nos próximos exercícios. “Não acredito que por
iniciativa própria os parlamentares diminuam o ritmo de crescimento desses
valores. Eles dificilmente vão perder uma prerrogativa como essa. Ninguém
abriria mão, principalmente no Parlamento”, diz.
Segundo o consultor do Senado Federal Fernando
Barros, a manutenção provisória do valor no relatório preliminar se deve ao
fato de, neste ano, a liberação de emendas das Casas ter sido menor do que em
2011. “Quando a movimentação de recursos não é a esperada, é natural a
tentativa de manter o montante das emendas”, avalia o especialista. Dos R$ 15
milhões, R$ 2 milhões devem ser destinados, obrigatoriamente, a programas da
área da saúde. Para o orçamento deste ano, a quantia foi reservada à ação 8581,
“Estruturação da Rede de Serviços de Atenção Básica de Saúde”. Como afirma o
consultor, trata-se de uma questão de mérito do próprio relator e que ainda
deverá passar por plenário. “O papel do parlamentar, do Congresso, como representante
da população e dos Estados federados, é exatamente esse: estabelecer as
prioridades. Essas prioridades estão sendo estabelecidas por escrito,
expressamente, para que possam ser discutidas”, diz o especialista. Barros
explica que o parecer preliminar estabelece normas de processamento legislativo
do PLOA. O fato de os recursos serem, por norma, destinados à saúde – e não à
educação ou segurança pública, por exemplo – não representaria qualquer falta
de autonomia individual por parte dos políticos. "Estabeleceu-se para
parte menor dos recursos uma prioridade. Essa prioridade determina um
posicionamento coletivo, que se sobrepõe ao posicionamento individual de cada
parlamentar”, diz. Assim, o cenário atual seria o meio termo entre um polo onde
não há qualquer diretriz ou elemento guia, ou seja, parlamentares trabalhariam
isoladamente, e outro onde absolutamente tudo é normatizado. As emendas
parlamentares são o principal instrumento dos congressistas para alterar a
proposta orçamentária. Contudo, os relatores temáticos da matéria e o
relator-geral também possuem poder para o remanejamento de valores. Existem
três tipos de emendas. As individuais são apresentadas pelos parlamentares para
obras e investimentos em seus estados. As de comissões acontecem quando cada
colegiado elenca os temas prioritários de sua área de atuação. Já as de
bancadas ocorrem quando cada unidade da Federação apresenta emendas de seu
interesse.
Participação do Legislativo no Orçamento
Para 2013, o relator Romero Jucá afirmou que o total
de recursos para as emendas de todos os tipos será de R$ 28,7 bilhões. Ao todo,
a proposta orçamentária tem um montante de R$ 1,25 trilhão. Assim, apenas
pequena parcela do orçamento estará sujeita à influência direta do Legislativo.
A maior parte está comprometida com despesas obrigatórias, como encargos
trabalhistas e previdência social. A pouca influência exercida pelo Congresso
no orçamento é alvo de críticas por parte de Barros. Segundo o consultor,
quando comparado a outros países – como, por exemplo, os EUA –, o Legislativo
brasileiro apresenta participação “acanhada”, sem amplitude ou profundidade nas
ações. Entretanto, o especialista se mostra otimista quanto ao papel
desempenhado pela Casa no futuro. Para ele, a tendência é que o Legislativo nacional
ganhe gradativamente mais espaço na quantidade de anotações no nível
orçamentário e se aparelhe de modo a discutir as questões na sua totalidade. “Um
aspecto importante é o da assimetria de informação. É preciso que, nos
processos decisórios que digam respeito à temática, todos os atores envolvidos
estejam devidamente informados sobre o objeto da decisão. É preciso alterar as
normas do processo legislativo orçamentário, de modo que a informação seja mais
bem distribuída, para que todos possam discutir em pé de igualdade”, conclui.
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