quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Said Barbosa Dib: “Acorda Aécio!”


Aécio Neves tem história. Participou de momentos importantes do avô no difícil processo de negociação da transição democrática. Aprendeu muito com Tancredo. Depois fez bom trabalho na modernização da Câmara. Enfrentou sem arrogância e de forma inteligente muita resistência. O saldo foi positivo. Como governador de Minas fez o que pôde e administrou bem, mesmo com limitações da conjuntura econômica da época, impostas pelo seu próprio partido em nível federal. O mineiro comum tem boa impressão dele. O candidato tucano conhece, ainda, tudo dos bastidores e respeita a classe política e as instituições. Sabe ouvir quem tem experiência. Entende que não há milagres no jogo político. Não tem perfil demagógico, hipócrita e irresponsável dos que, em arroubos totalitários espertalhões, tentam desacreditar as lideranças políticas nacionais, como fez Eduardo Campos quando, apenas para se promover, falou mal de estadistas como Sarney e Collor. Diferente da candidata da oligarquia financeira internacional, dona Osmarina Silva, Aécio teria condições de governar sem problemas se fosse eleito. Mas não será. Seu problema é o próprio partido. Se tivesse se transferido para o PMDB talvez tivesse alguma chance. Mas no PSDB a coisa fica difícil. O tucanato paulista não quer que ele ganhe. Serra e seus asseclas não o engoliram e sabem sabotar como ninguém. O PSDB como um todo tem discurso vazio, não tem plano para o País.  Sua concepção de política econômica recessiva, apátrida e submissa ao mercado financeiro internacional, foi sequestrada pelo PT (quem diria!). Superávit primário, meta de inflação e toda parafernália financeira que beneficia somente rentistas da dívida pública em detrimento de toda a Nação (base dos oito anos do desgoverno FHC), vêm sendo caninamente defendidas pelos governos petistas. Os tucanos foram “capados” politicamente. Não têm o que falar. Restam-lhes apenas lamúrias de derrotados. Restringem-se a questionar os petistas não na essência da política econômica, mas nas questões secundárias e pontuais quanto à dose sobre os gastos públicos, obviedades sobre inflação e bravatas oposicionistas sobre corrupção, com todo aquele “blá, blá, blá” lacerdista nada honesto de sempre. Algum assessor de Aécio Neves deveria falar para o candidato que sua única chance de não ser humilhado no pleito de outubro é abandonar a ladainha insossa sobre “corrupção e inflação” e partir para o que interessa: sua própria história. Aécio teria crescimento substancial se garantisse ao povo brasileiro que é herdeiro convicto de tudo que Tancredo simbolizou: a transição democrática, a justiça social e o desenvolvimento soberano da economia. Os três objetivos básicos da Aliança Democrática. Sarney, tendo que assumir a presidência diante da tragédia ocorrida com Tancredo, conseguiu com coragem e determinação garantir o primeiro objetivo: a transição democrática sem revanchismos e atropelos. Nos cinco anos de seu governo solidificaram-se as instituições. As eleições se sucederam com absoluta tranquilidade e uma nova constituição foi promulgada. A imprensa e os sindicatos nunca foram tão livres. Os partidos se reorganizaram e a sociedade encontrou o caminho de uma democracia plena. Sarney também deu início ao segundo objetivo de Tancredo: colocou, pela primeira vez, a questão social na agenda política. A opção “Tudo pelo Social” refletiu o empenho em voltar o Estado para os mais humildes. O Programa do Leite, o vale-refeição, o vale-transporte, o seguro-desemprego, a farmácia básica do CEME, a universalização da saúde, foram providências importantes que criaram as bases de todas as políticas de proteção social dos governos que viriam. Mas faltou o desenvolvimento econômico efetivo e soberano. Sarney, sem apoio do próprio partido, não teve tempo para isso. Aécio tem que mostrar que, agora, nova fase de evolução é necessária. Precisa se comprometer em cumprir o terceiro objetivo do avô, dando continuidade ao que Sarney fez. Para isso deve neutralizar o tucanato paulista e se aproximar do PMDB, mostrando-se como alternativa real à mesmice da atual política econômica. Tancredo nunca admitiu recessão e aperto fiscal como solução para o combate à inflação e o desenvolvimento econômico. A morte de Tancredo provocou comoção nacional. Se Aécio convencer os eleitores de que é o verdadeiro herdeiro de Tancredo, talvez consiga o apoio até do PMDB, o partido mais estruturado nos estados. Sua candidatura, assim, seria fortalecida e, pelo menos, o risco de uma derrota humilhante estaria afastado. Acorda Aécio!

Said Barbosa Dib é analista político em Brasília

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