Aécio
Neves tem história. Participou de momentos importantes do avô no difícil
processo de negociação da transição democrática. Aprendeu muito com Tancredo.
Depois fez bom trabalho na modernização da Câmara. Enfrentou sem arrogância e
de forma inteligente muita resistência. O saldo foi positivo. Como governador
de Minas fez o que pôde e administrou bem, mesmo com limitações da conjuntura
econômica da época, impostas pelo seu próprio partido em nível federal. O
mineiro comum tem boa impressão dele. O candidato tucano conhece, ainda, tudo dos
bastidores e respeita a classe política e as instituições. Sabe ouvir quem tem
experiência. Entende que não há milagres no jogo político. Não tem perfil demagógico,
hipócrita e irresponsável dos que, em arroubos totalitários espertalhões, tentam
desacreditar as lideranças políticas nacionais, como fez Eduardo Campos quando,
apenas para se promover, falou mal de estadistas como Sarney e Collor. Diferente
da candidata da oligarquia financeira internacional, dona Osmarina Silva, Aécio
teria condições de governar sem problemas se fosse eleito. Mas não será. Seu
problema é o próprio partido. Se tivesse se transferido para o PMDB talvez
tivesse alguma chance. Mas no PSDB a coisa fica difícil. O tucanato paulista
não quer que ele ganhe. Serra e seus asseclas não o engoliram e sabem sabotar
como ninguém. O PSDB como um todo tem discurso vazio, não tem plano para o País.
Sua concepção de política econômica
recessiva, apátrida e submissa ao mercado financeiro internacional, foi
sequestrada pelo PT (quem diria!). Superávit primário, meta de inflação e toda
parafernália financeira que beneficia somente rentistas da dívida pública em
detrimento de toda a Nação (base dos oito anos do desgoverno FHC), vêm sendo
caninamente defendidas pelos governos petistas. Os tucanos foram “capados”
politicamente. Não têm o que falar. Restam-lhes apenas lamúrias de derrotados.
Restringem-se a questionar os petistas não na essência da política econômica,
mas nas questões secundárias e pontuais quanto à dose sobre os gastos públicos,
obviedades sobre inflação e bravatas oposicionistas sobre corrupção, com
todo aquele “blá, blá, blá” lacerdista nada honesto de sempre. Algum assessor
de Aécio Neves deveria falar para o candidato que sua única chance de não ser
humilhado no pleito de outubro é abandonar a ladainha insossa sobre “corrupção
e inflação” e partir para o que interessa: sua própria história. Aécio teria
crescimento substancial se garantisse ao povo brasileiro que é herdeiro convicto
de tudo que Tancredo simbolizou: a transição democrática, a justiça social e o
desenvolvimento soberano da economia. Os três objetivos básicos da Aliança Democrática.
Sarney, tendo que assumir a presidência diante da tragédia ocorrida com
Tancredo, conseguiu com coragem e determinação garantir o primeiro objetivo: a
transição democrática sem revanchismos e atropelos. Nos cinco anos de seu
governo solidificaram-se as instituições. As eleições se sucederam com absoluta
tranquilidade e uma nova constituição foi promulgada. A imprensa e os
sindicatos nunca foram tão livres. Os partidos se reorganizaram e a sociedade
encontrou o caminho de uma democracia plena. Sarney também deu início ao
segundo objetivo de Tancredo: colocou, pela primeira vez, a questão social na
agenda política. A opção “Tudo pelo Social” refletiu o empenho em voltar o
Estado para os mais humildes. O Programa do Leite, o vale-refeição, o
vale-transporte, o seguro-desemprego, a farmácia básica do CEME, a universalização
da saúde, foram providências importantes que criaram as bases de todas as políticas
de proteção social dos governos que viriam. Mas faltou o desenvolvimento econômico
efetivo e soberano. Sarney, sem apoio do próprio partido, não teve tempo para
isso. Aécio tem que mostrar que, agora, nova fase de evolução é necessária. Precisa se comprometer em cumprir o terceiro objetivo do avô, dando continuidade ao
que Sarney fez. Para isso deve neutralizar o tucanato paulista e se aproximar
do PMDB, mostrando-se como alternativa real à mesmice da atual política
econômica. Tancredo nunca admitiu recessão e aperto fiscal como solução para o
combate à inflação e o desenvolvimento econômico. A morte de Tancredo provocou comoção nacional. Se Aécio convencer os
eleitores de que é o verdadeiro herdeiro de Tancredo, talvez consiga o apoio
até do PMDB, o partido mais estruturado nos estados. Sua candidatura, assim,
seria fortalecida e, pelo menos, o risco de uma derrota humilhante estaria
afastado. Acorda Aécio!
Said Barbosa Dib é analista político em
Brasília
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