O scanner corporal
A União Europeia já decidiu, e alguns aeroportos, como o de Amsterdã, já instalaram os seus scanners antiterror, que, no frigir dos ovos, são o big brother mais potente que se podia imaginar, pois podem tirar a roupa de todo mundo, num mundo que já não tem muita roupa.
Tudo surgiu quando um terrorista nigeriano burlou todas as formas de vigilância e quase explodiu um avião da Northwest Airlines que voava para Detroit na noite de Natal. A solução foi obrigar todos os passageiros no futuro a passar por scanners, que, se têm a vantagem de evitar essa apalpação a que nos submetem os vigilantes aeroportuários, nos despem logo.
A grande discussão que hoje preocupa a liberdade individual é como manter os direitos de privacidade num mundo em que a tecnologia tudo invade e torna esses direitos inexistentes, acabando com os direitos humanos.
Fora do mundo, no Brasil abre-se um grande debate sobre as diretrizes do Programa Nacional de Direitos Humanos e propõe-se até mapear em que momento da história não foram cumpridos, para punição dos responsáveis. Lembro-me de que, quando os ossos de dom Pedro 1º vieram para o Brasil e percorreram todas as capitais do país, em Recife não quiseram recebê-lo, pois ele fora o repressor da Confederação do Equador e quem mandara enforcar o Frei Caneca.
Enquanto discute-se isso, os operadores de controle alfandegário podem tirar as nossas roupas e verificar o que temos demais e de menos.
A eficiência das máquinas é tão grande que o senhor James Schear, encarregado do aeroporto de Baltimore, diz que "as máquinas são tão precisas que olham através da roupa e podem captar não só o gênero do passageiro, mas até a gota de suor na nuca do viajante". Outro expert mais claro, do "Los Angeles Times", fala, em vez de gênero, em "genitália".
Mas as coisas não são tão tranquilas. Os judeus ultraortodoxos, por exemplo, invocam motivos religiosos para resistir a essas máquinas, pois as leis do Tzniut (a modéstia) na Torá, no Levítico (18:9-17), interpretadas pelo Centro Rabínico da Europa, alertam que as mulheres judias não podem se mostrar "acima do joelho e abaixo do pescoço". Já outros mais, por motivos mais que justos, não pensam tanto nos homens, mas não admitem que suas esposas, filhas e mães sejam bisbilhotadas pela polícia.
Ora, aqui no Brasil, onde o segredo de Justiça só existe para os que são acusados, o que não valerá passar para a mídia todo segredo da Gisele Bündchen, com direito a Photoshop? Então, os nossos ministros Vannuchi e Jobim estão como a UDN dos meus tempos de jovem: discutindo o sexo dos anjos.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisbo
jose-sarney@uol.com.br
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
José Sarney
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