quinta-feira, 15 de julho de 2010

Carta Aberta aos usuários do Transporte Coletivo de Macapá

Por Renivaldo Costa - jornalista

tgmafra@gmail.com

Desde fevereiro de 2008, assumi a Assessoria de Comunicação do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Amapá com o propósito de contribuir na melhoria do sistema de transporte coletivo da capital. Ao longo desses quase dois anos e meio, propus campanhas educativas, cursos de aperfeiçoamento aos profissionais do sistema, criação de SAC, ouvidoria, web site, dentre outros serviços que pudessem desburocratizar o atendimento ao usuário.

É inegável que houve avanços no sistema de transporte, mas eles ocorreram muito mais pelo empenho do poder público municipal do que pela vontade dos empresários do setor. Ampliamos a frota, colocamos veículos adaptados para cadeirantes, mas pouco ou nada avançamos no atendimento aos usuários do sistema de bilhetagem em vigor.

O sistema atual é burocrático e ultrapassado, e complica ao invés de ajudar o usuário. Somente à guisa de exemplo, um cartão smart card, desses usados no sistema de bilhetagem, custa não mais que R$ 3, mas para que o estudante solicite uma segunda-via, em caso de perda ou furto, deve pagar ao Setap a taxa de R$ 29,25. É um absurdo.

No início deste ano, fui informado da “virada de chave” do sistema de bilhetagem. De pronto, percebi tratar-se de um retrocesso. Ao invés de garantir a descentralização do atendimento a usuários do passe escolar e do vale-transporte, o novo sistema eliminaria a possibilidade de compra antecipada de crédito eletrônico e, de uma só vez, durante a transição, bloquearia dezenas de milhares de cartões de bilhetagem, causando o caos que todos nós vimos desde sábado, 10 de julho.

No sábado, 10, e domingo, 11, estive no prédio do Setap, relatando aos diretores do sindicato, o transtorno que assomava estudantes e trabalhadores. Sugeri que, durante uma semana, os usuários tivessem o ingresso nos ônibus franqueado pelas empresas, até a normalização do atendimento. Ironicamente, os diretores das duas maiores empresas de transporte, e também as que menos respeitam o usuário, foram contra a proposta.

Na segunda-feira, 12, fui ao prédio do Setap como ultima tentativa de fazê-los compadecer da multidão que sofria do lado de fora, numa quilométrica fila. Com exceção do gestor do SBE/MCP, arquiteto Artur Sotão, e do presidente Paulo Dartora, nenhum outro diretor do Setap compareceu ao sindicado naquele dia.

No mesmo dia, ao ver diante de mim o desrespeito brutal a que eram submetidas milhares de pessoas, percebi que não podia compactuar com aquilo, sob pena de ir contra minha consciência e todos os princípios que construí ao longo de minha trajetória profissional, e mesmo de cristão e de maçom que sou. Sequer encontrei um diretor do Setap para, fitando nos olhos, entregar meu posto de trabalho. Não tive outra alternativa, a não ser formalizar meu pedido de demissão por meio de documento e através de nota veiculada em alguns veículos de comunicação.

Agradeço a todas as manifestações de solidariedade que recebi desde então, inclusive do próprio prefeito Roberto Góes, que através de um programa radiofônico e também por telefone, disse reconhecer minha luta e convidou-me para me juntar à equipe que vai retomar o Sistema de Bilhetagem Eletrônica para o poder público municipal, conforme a legislação preceitua.

Honra-me o convite e mais ainda, a nova oportunidade que terei de lutar pela implantação de um sistema que respeite o usuário, que satisfaça o cidadão e garanta ao contribuinte a utilização adequada de seus tributos. Tenho certeza que o prefeito Roberto Góes, ao retomar para a prefeitura a bilhetagem, garantirá um passe forte.

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