terça-feira, 13 de julho de 2010

Entrevista do Diário do Amapá com Robério Nobre

“O desenvolvimento do AP passa pela fronteira com a Guiana”

ROBÉRIO NOBRE tem motivos para estar otimista em relação a cooperação transfronteiriça

Pesquisados dos mais conceituados, o atual diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento do Amapá (ADAP), Robério Nobre, voltou falante e otimista de uma série de encontros com autoridades do Brasil, Guiana Francesa e Suriname, que aconteceu em Caiena, na semana passada. Para ele, a crise econômica que assusta a União Européia faz com que países como a França saia em busca de novos mercados. Isso tudo aliado ao fato do governo do presidente Lula estar percorrendo o mundo vendendo o Brasil como mercado em potencial, pode acelerar uma ação mais efetiva de cooperação com a Guiana Francesa, não mais como um país sul-americano, mas um bloco econômico importante, do Mercosul, o que deixaria o Amapá em situação privilegiada, por sua localização geográfica ímpar, de ser o único Estado Brasileiro a fazer fronteira com um departamento da União Européia.

Perfil

Amapaense Robério Aleixo Anselmo Nobre tem 52 anos de idade, é casado e pai de filho, Nasceu em Santana e diplomou-se em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP) e Meteorologia, pela Universidade Federal da Paraíba. Fes curso de Mestrado em Gestão Pública, pela Faculdade Estadual do Ceará, além de Especialização em Gerenciamento Empresarial, pela Fundação Getúlio Vargas. Foi chefe técnico da Embrapa no Amapá, coordenador nacional de Programas de Recursos Naturais, também da Embrapa, secretário municipal de Meio Ambiente de Santana, secretário-adjunto de Estado do Meio Ambiente, presidente da Companhia de Gás do Amapá e atualmente é diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento do Amapá (ADAP).

"Você já imaginou Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil unidos? O quanto isso é importante para a economia mundial? Então o Amapá está trajeto, pois é o grande corredor de ligação entre a América do Sul e a Europa, não esqueçam disso."

Diário do Amapá - Qual a avaliação que o senhor faz da participação do Amapá na série de encontros realizados em Caiana, com representantes do Brasil, Guiana Francesa e do Suriname?

Robério Nobre -
Eu queria chamar a atenção com relação a essa cooperação entre o Brasil e a França, que inclui o Amapá. Existem duas fases distintas. Uma é com relação ao PO Amazônia, que é um projeto que tem recursos financeiros pelo governo francês junto com a União Européia, que tem alguns projetos para o Brasil, que inclui o Pará e o Amapá. Então essa reunião foi feita para se discutir e avaliar esses projetos junto à União Européia. O segundo objeto dessa reunião foi a preparação para o encontro transfronteiriço que ocorrerá dia 30 de agosto a 1º de setembro, em Caiena, esse com muito mais substância sobre a relação Brasil, Amapá e Guiana Francesa.

Diário - Mas de qualquer forma o senhor faz uma avaliação positiva dessas primeiras discussões envolvendo os interesses do Amapá?

Robério - A avaliação que a gente pode fazer sobre o P.O. Amazônia a gente pode dizer o seguinte...

Diário - O que é esse P.O. Amazônia, presidente?

Robério - Significa Plano Nacional Amazônia, mas é francês, tocado pela Guiana setentrional que também faz parte da Amazônia, então eles aproveitaram para estender essa ação junto ao resto da Amazônia, incluindo o Pará e o Amapá. Na verdade incluindo mais a Amazônia oriental, que são os projetos dos Quelônios, no Pará, assim como um outro projeto que está sendo avaliado de trazer a banda larga via rádio, de um grupo de empresários de Caiena junto com um outro grupo de empresários aqui do Amapá. Na verdade isso tudo está ainda em discussão. Por enquanto está suspenso para ser reavaliado, não que tenha sido reprovado. Agora uma coisa que gostaria de interessante nesse encontro foi uma reunião que nós tivemos com a Câmara de Comércio e Indústria da Guiana Francesa, para aprofundar a questão do Estado do Amapá, a Telebrás e Eletronorte, com a France Telecon. Quero destacar que é o Estado do Amapá, re-presentado pela Adap (Agência de Desenvolvimento do Amapá), com relação à banda larga. Nós vamos trazer a banda larga, mas de forma que seja pensada, planejada, executada de acordo com os trâmites que têm que ser seguidos e não isso que estão falando por aí, quero deixar bem claro isso.

Diário - Como estão essas tratativas então, pre-sidente?

Robério -
Na conversa que nós tivemos na Câmara de Comércio com representantes da France Telecon, tratamos de uma proposta de realmente interligar via fibra ótica, o que é diferente do que estão propalando por aí. A disponibilidade do background para o Estado do Amapá, que está sendo colocada à disposição pelo American 2, que é o cabo submarino que liga a Europa aos Estados Unidos, que tem um ramal que passa por Caiena. Então nós vamos ligar de Caiena para Oiapoque e de lá até Macapá, para ser distribuída aos outros municípios.

Diário - A Eletronorte entra nessa parceria cedendo os cabos de fibra ótica que estão no linhão de energia da usina de Coaraci Nunes, é isso?

Robério -
Exatamente. É isso que nós estamos buscando. Posso garantir que essa viagem que nós iremos fazer na próxima segunda-feira, juntamente com o governador, ao BNDES, no Rio de Janeiro e na volta parando em Brasília, onde vamos ter uma audiência com o presidente da Telebras, já para tratar desse assunto. Quero deixar bem claro que nós não estamos prometendo, mas sim buscando fazer. Se nós vamos conseguir fazer para amanhã ou daqui a um ano isso não está ainda em discussão, mas que nós estamos providenciando essa ligação estamos sim. É o Estado do Amapá que está buscando fazer essa interlocução junto às entidades que podem resolver esse problema.

Diário - Apostar em parcerias como essa da Guiana Francesa pode ajudar o Amapá, além da internet, em que outras formas para o desenvolvimento econômico do Estado?

Robério -
Essa pergunta é muito boa, pois se a gente fosse fazer uma avaliação há dez anos, poderíamos dizer que não havia interesse, na verdade, não do governo francês ou da União Européia, mas um interesse geral, pois não tinha motivação para ser feito isso. Não um interesse da nossa parte, porque o ônus é muito grande para essa fronteira com a Guiana do jeito que ela está. Nós precisamos é ocupar essa fronteira de forma econômica, de forma humana, com investimento, enfim, é desse jeito que a gente tem que fazer, ocupar o Estado, o Brasil tem que tomar essa decisões. Foi verificado também que a crise que a Europa está passando vai forçar que eles busquem novos mercados, então é uma oportunidade que o Amapá e o Brasil está tendo de renegociar essa cooperação com a França, fortalecendo essa cooperação com o governo francês, através de Caiena, estendendo isso pelo Platô das Guianas até o Caribe. Eu vejo isso tudo muito claramente então o Estado brasileiro tem que ocupar para o seu desenvolvimento.

Diário - O senhor diria que esse é verdadeiramente um modelo de desenvolvimento que o Amapá tem mesmo que apostar?

Robério -
Eu não acho, eu estou afirmando. Eu acredito que essa possibilidade está vinculada ao desenvolvimento deste Estado. O Amapá não vai contar com indústria agora, pois não vai chegar nesse momento, mas a prestação de serviço com certeza absoluta pode ser feito e de imediato, como por exemplo, transporte. Com essa ponte aberta, nós vamos ter que oferecer empresas de transporte aqui, de grande porte, que saiba tratar em nível internacional. Garanto uma coisa: se a gente conseguir se organizar para isso vai ser a grande chance, a oportunidade de desenvolvimento do nosso Estado.

Diário - Mas para tudo isso acontecer é preciso que o governo brasileiro tome essas iniciativas, afinal a política internacional é competência do governo federal. O senhor vislumbra essa possibilidade?

Robério -
Com certeza, como conseqüência da própria evolução da relação internacional que o Go-verno Federal está dando, através do presidente Lula, que está fazendo o Brasil também buscar novos mercados, novas parcerias. Isso faz com que a própria Europa tenha uma nova visão de Brasil, que é só um potentado dentro da América do Sul, mas é a busca pelo continente. Você já imaginou Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil unidos? O quanto isso é importante para a economia mundial? Então o Amapá está trajeto, pois é o grande corredor de li-gação entre a América do Sul e a Europa, não esqueçam disso. Cabe a nós, governo do Estado, Governo Federal, chamar a atenção para esse processo. Nós não podemos deixar o Oiapoque virar uma grande favela, não podemos deixar o Oiapoque ficar ao largo do desenvolvimento do Estado.

Diário - Porque essas ressalvas em relação ao Oiapoque?

Robério -
O Oiapoque é uma cidade que tem que ser olhada com muito carinho pelo Governo do Estado e pelo Governo Federal. Todas as tratativas têm que passar pela discussão a respeito de Oiapoque. Se a gente quer esse Estado desenvolvido, são dois os municípios que temos que ter uma consideração especial: Laranjal do Jari e Oiapoque, esses são dois municípios que com certeza absoluta vão nos levar a redenção econômica ou quem sabe até um deslocamento social favorecendo o crescimento desse Estado.

Diário - O senhor falou dessas demandas que poderão advir com a construção da ponte binacional sobre o Rio Oiapoque, então com relação a empresas de transporte, seja de cargas ou de passageiros, onde profissionais como motoristas e cobradores tenham que receber treinamento de idiomas, o Amapá tem que preparar também essa mão de obra?

Robério -
Claro, pois a cada demanda que vai surgindo se não houver a preparação do lado daqui, nós vamos ter cobradores vindo lá de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Belém ou de outros lugares para vir trabalhar aqui no Oiapoque porque falam francês. Então cabe a própria população começar e também o Estado incentivar, assim como a iniciativa privada ter essa visão de negócio, além dos Sebrae's da vida, o Sesi, o Senac, vislumbrarem isso como uma oportunidade que o Estado está tendo e que não é só para o poder público é também para a iniciativa privada. O Estado tem que ser co-participe disso e não o executor. É isso que precisa ser visto nesse desenrolar dessas tratativas que estamos tendo com a Guiana Francesa, com a França. Volto a repetir. É uma oportunidade ímpar que o Estado do Amapá está tendo e eu quero lembrar que já foi tratado também agora em Caiena não só a questão do transporte terrestre mas também do transporte aéreo, que hoje é estrangulante, pois só temos dois vôos de Caiena para o Brasil e que é via Belém e não passa por Macapá. No próximo dia 30 de julho e no dia 1º de agosto nós vamos colocar na pauta já, como proposta algumas coisas já para fechar com relação a essas questões. Já existem empresas fazendo estudos de viabilidade, então isso começa a deixar de ser sonho para ser fato real, então acredito que daqui até meados de junho do próximo ano nós vamos ter muitas novidades nesse setor. Podem esperar que isso vai ocorrer.

Diário do Amapá

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