segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Comissão do Senado aprova requerimento de Randolfe sobre ida de senadores ao Mato Grosso



Diligência do Senado Federal irá conferir de perto a situação dos índios da etnia Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul. A proposta foi feita por meio de um requerimento do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), durante uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH) na última semana, e aprovada nesta segunda-feira (05) em reunião da CDH. “Temos que garantir segurança para essas comunidades que sofrem com a violência e a ganância do latifúndio”, lembra Randolfe. O descaso, a impunidade, assassinatos e a ausência do poder público rondam o dia a dia das comunidades indígenas em todo o Brasil. Na última  quinta-feira (01), a CDH ouviu o drama dos Guaranis–Kaiowás, comunidade do estado do Mato Grosso do Sul, que segundo os próprios índios da etnia, enfrentam um genocídio do século XXI por parte do governo e da justiça. A etnia é a segunda maior do país com 43 mil índios. Eles denunciam a violência e a expulsão de suas terras agravada pela expansão do agronegócio e a cobiça dos fazendeiros, que impõem aos índios uma situação desumana. Na comunidade Guarani Kaiowá da aldeia Pyelito Kue, localizada no complexo de Iguatemi Pegua, 170 índios são obrigados a viverem em uma área de 2 hectares.  As terras indígenas estão localizadas na fazenda Cambará que tem uma área de 700 hectares no município de Iguatemi. Os relatos durante a audiência pública, na última semana, expuseram a realidade traçada por tal situação. A taxa de assassinatos é altíssima, chegando a uma média de 25 homicídios para cada 100 mil habitantes. Quatro vezes maior que a média nacional. Nos últimos dez anos, foram registrados 555 suicídios entre os índios por confinamento, falta de perspectiva, violência, afastamento das terras tradicionais e vida em acampamentos às margens de estradas. Outro agravante segundo o procurador é a ausência de atendimento em diversas áreas. “Ouso dizer que no MS, infelizmente, nós temos um caso de apartheid porque nós temos a negação de atendimento de segurança pública de 43 mil indígenas, cercas invisíveis separam essas pessoas do resto da população. Se um indígena hoje ligar para o 190, um direito que todo o cidadão brasileiro tem, ele não será atendido. Isso acaba fazendo com que esses índices sejam elevadíssimos, muito acima da média nacional”, alerta o Procurador da República de Dourados (MS), Marco Antônio Delfino.


Demarcação Urgente

Para o Procurador da República é necessário avançar no processo de demarcação das terras dos Guaranis-Kaiowás para garantir, inclusive, segurança para as comunidades. “A realidade deve ser dita. Nós últimos dez anos, apenas dois mil hectares foram efetivamente ocupados pelos Guarani-Kaiowá. Apenas duas terras indígenas foram ocupadas nos últimos dez anos. Então, ainda que tenha havido um processo de demarcação, esse processo de demarcação acaba sendo judicializado e impede que ocorra qualquer avanço na ocupação efetiva desses territórios”, enfatiza Marco Antônio Delfino.


Retrocessos na Legislação

Na pauta do Congresso nacional ao menos três propostas preocupam as comunidades indígenas e representantes de entidades que atuam a defesa dos seus direitos. Entre elas, a PEC 038, em tramitação no Senado e a PEC 215 em tramitação na Câmara.  A PEC 38 de 1999, de autoria do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), além de submeter às demarcações de reservas indígenas à aprovação privativa do Senado, estipula que as demarcações ou unidades de conservação ambiental não excedam 30% do território dos estados. Já a PEC 215 de 2000 que está a Câmara, inclui dentre as competências exclusivas do Congresso Nacional a aprovação de demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios e a ratificação das demarcações já homologadas; estabelecendo que os critérios e procedimentos de demarcação serão regulamentados por lei. Randolfe analisa que essas propostas deformam a conquista obtida na Constituição de 1988 em relação aos povos indígenas. “O que nós conquistamos na Constituição de 1988 em relação aos povos indígenas é um avanço civilizatório, que não pode ter retrocesso, que não pode ser ameaçado. Então, é importante, além da situação específica em relação aos povos e ao acompanhamento por parte desta Comissão de Direitos Humanos, através de uma diligência pública, é fundamental uma mobilização constante aqui para que não paire nenhuma das ameaças que tramitam aqui no Congresso Nacional.”


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