Especialistas do setor de abastecimento, reunidos
nesta quarta-feira (7) em audiência no Senado, apontaram a falta de
infraestrutura e o aumento exagerado do consumo de combustíveis como os
principais fatores que levaram à recente falta de gasolina no Amapá. O presidente
do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e
Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz, ressaltou que a situação da falta de
combustíveis não é exclusiva do Amapá e explicou que o principal fator para o
problema de abastecimento é o crescente consumo, não acompanhado do
desenvolvimento da infraestrutura.
- Desde 2009, o consumo de gasolina cresceu 58%.
Não há precedentes na história recente do país de um crescimento da demanda de
gasolina dessa magnitude – afirmou.
Entre os fatores que provocaram o aumento do
consumo de combustível, Alísio destacou a melhoria da renda da população, o
maior acesso ao crédito e os incentivos fiscais concedidos à indústria
automobilística. Ele acrescentou que o Brasil não tem rodovias, ferrovias e portos
para suportar esse aumento de demanda.
- A infraestrutura logística está saturada no país.
Não adianta planejar só na previsão de compras, é preciso planejar também em
infraestrutura – disse.
O presidente do Sindicom destacou a necessidade de
o governo ouvir os setores envolvidos no abastecimento na discussão do novo
marco regulatório dos portos. Ele lembrou que os terminais portuários de
combustíveis são um elo importantíssimo na cadeia de abastecimento e qualquer
alteração no modelo atual poderá afetar o setor.
Em relação à situação específica do Amapá, o
gerente jurídico da Ipiranga, Guido Silveira Filho, explicou que houve uma
demanda exagerada de combustível desde o mês de agosto, com pico em outubro.
Ele observou que o aumento do consumo de diesel só não causou problemas graças
a um navio-cisterna que se encontra no estado para suprir a demanda. Já o
etanol, por questões de safra e produção, foi levado de pontos mais distantes.
- Em toda a região Norte só temos um produtor
de etanol – explicou.
Providências
Em relação às providencias que estão sendo tomadas
para lidar com a crise, o gerente executivo de Operações da BR Distribuidora,
Jorge Celestino Ramos, afirmou que estão sendo construídas bases para
descarregamento de combustível nas cidades de Cruzeiro do Sul (AC) e Porto
Nacional (TO). Atualmente, grande parte do suprimento de gasolina e etanol do
estado do Amapá vem de uma base em Belém.
Jorge Celestino afirmou que a Petrobras pretende
manter um navio-cisterna em Macapá para garantir o fornecimento de gasolina,
mas a iniciativa depende de licenciamento ambiental.
- No curto prazo, estamos reforçando a frota e o
estoque em Belém. No médio prazo, estamos colocando uma estrutura provisória de
suprimento para Macapá e, no longo prazo, estamos estudando uma base que
receberá pelo modal fluvial, liberando as estruturas de Belém – disse o
executivo.
O superintendente de Abastecimento da Agência
Nacional do Petróleo (ANP), Dirceu Cardoso Amorelli Junior, afirmou que a ANP
analisa se houve alguma conduta passível de punição no caso do Amapá.
Ele explicou que a agência está elaborando uma resolução para obrigar as
distribuidoras a manterem um estoque adequado de combustível.
Dirceu Amorelli ressaltou que a ANP já preparou uma
análise de risco da região Norte, com o objetivo de apontar qual seria o
estoque ideal para a estrutura existente, de forma a evitar "sustos"
e problemas de abastecimento.
- Vamos exigir que essas distribuidoras tenham um
nível de estoque adequado para o atendimento das regiões – disse.
Guido Silveira, da Ipiranga, informou que a empresa
está realizando transferências emergenciais de produtos de outras bases, como
as de São Luís (MA) e Goiânia (GO). Além disso, para solucionar o caso, estão
sendo contratados mais caminhões e reforçada a solicitação para que os
fornecedores entreguem a gasolina diretamente a Macapá.
O senador Tomás Correia (PMDB-RO) argumentou que o
problema do abastecimento é resultado da falta de planejamento por parte dos
órgãos responsáveis pelo setor, já que o aumento do consumo e a dificuldade de
transporte são fatores previsíveis.
- Não há um plano estratégico adequado e estão se
socorrendo de emergências, de correr atrás daquilo que já está acontecendo –
afirmou.
Agência Senado
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