Marcos Magalhães
O senador José Sarney aplaudiu o estabelecimento de relações com a China
O início da aproximação entre Brasília e Beijing, que tem como destaque a presença nesta quarta-feira (16) do presidente Xi Jinping no Congresso Nacional, foi celebrada há 40 anos no Plenário do Senado. Um dia depois do anúncio do estabelecimento de relações diplomáticas entre o Brasil e a República Popular da China, em 15 de agosto de 1974, diversos senadores foram à tribuna para elogiar a decisão tomada pelo então presidente Ernesto Geisel, quando o mundo ainda experimentava as restrições da Guerra Fria.
Em comunicado conjunto divulgado então pelos dois governos, o Brasil passou a reconhecer o governo comunista instalado em Beijing como “o único governo legal da China”. O governo chinês, por sua vez, reafirmou que Taiwan – ilha com a qual o Brasil mantinha relações até então – era “parte inalienável” do território da República Popular da China.
Além disso, os dois governos assumiram o compromisso de “desenvolver relações amistosas com base nos princípios de respeito recíproco à soberania e à integridade territorial, não-agressão, não-intervenção nos assuntos internos de um dos países por parte do outro, igualmente e vantagens mútuas e coexistência pacífica”.
O primeiro a elogiar a decisão foi o senador José Sarney, que anos mais tarde, já como presidente da República, visitou a China e teve um encontro com o então líder Deng Xiao Ping, principal responsável pelas reformas que levaram aquele país a tornar-se a segunda maior potência econômica do mundo. Ele classificou o estabelecimento de relações bilaterais como um “gesto de afirmação nacional”.
Em seu pronunciamento, Sarney observou que, aos países pequenos e sem responsabilidade mundial, é possível permitir-se uma situação de isolamento, uma visão “displicente” das relações diplomáticas. Mas o Brasil, ressalvou, com sua extensão territorial e sua grande população, “assume o dever de dividir com as nações mais responsáveis do mundo a responsabilidade de ser uma das pilastras da paz mundial”.
“É um passo decisivo pelo qual 800 milhões de habitantes, e 100 milhões de habitantes de dois dos maiores países do mundo, respeitando as suas soberanias, as suas visões diferentes de como cada um deve conduzir o seu caminho, resolvem estabelecer, com respeito mútuo, relações normais, cada um perseguindo o desenvolvimento, cada um perseguindo os seus objetivos de colaborar para a melhoria de relações entre os povos”, afirmou Sarney à época.
Em aparte, o então senador José Lindoso elogiou o “ecumenismo diplomático” de Geisel, que, a seu ver, não excluía valores éticos configurados na solidariedade das nações em busca de uma solidariedade maior, que é para com o destino do homem, para com o destino da humanidade”. Ele destacou ainda como qualidade da política externa de Geisel “o respeito profundo da soberania nacional de cada povo, na vivência integral do princípio da autodeterminação”.
Por sua vez, o então senador Lourival Baptista classificou a decisão de estabelecimento de relações diplomáticas como histórica e “de indiscutível e imensa significação” para o Brasil.
“Finalmente o governo Geisel demonstra à Nação que os enunciados de sua política externa não foram meras palavras e muito menos simples promessas: por demais cedo fica revelada a objetividade de nossa política externa, da mesma forma que se exibe portentosamente a capacidade do governo em concretizar uma ação que a muitos parecia improvável e a outros impraticável!”, celebrou Baptista.
Agência Senado
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