Diário do Amapá – A proposta é apresentar um pouco essa estatal que o senhor representa aqui no Amapá. Como é a Eletronorte?
Marcos Drago – Ela é uma empresa de geração e transmissão de energia. Foi criada há 41 anos. E a finalidade dela quando de sua fundação era justamente fazer a geração e transmissão de energia na região norte do país. Depois disso ampliou e passou a fazer essa geração e transmissão também na Amazônia Legal. De 2004 pra cá o cenário do setor elétrico mudou, acabaram-se as exclusividades das empresas estatais, e hoje esse é um mercado aberto. Temos participações bastante grandes das empresas privadas também.
Diário – E qual o papel da Eletronorte hoje?
Marcos – Com todos esses anos atuando na região amazônica ela tem um know-how para vencer grandes distâncias e fazer esse serviço de geração e transmissão de energia no Brasil inteiro. É isso que estamos fazendo hoje. O Amapá muito em breve estará interligado ao Sistema Nacional de Energia, fazendo com que a energia que a Eletronorte possa produzir aqui ou produzir em outra usina chegue ao Amapá ou saia do estado.
Diário – Sobre a usina hidrelétrica do Paredão, a história conta que a Icomi teve papel decisivo junto ao antigo território do Amapá para a construção da hidrelétrica. Como a Eletronorte assumiu o controle da Coaracy Nunes?
Marcos – A região amazônica só tinha sistemas isolados de energia, as usinas térmicas, e aqui a Icomi realmente pesou bastante para a construção da hidrelétrica de Coaracy Nunes. Mas em 1974, quando a Eletronorte foi criada, logo ela assumiu essa função de concluir a obra que tinha sido iniciada com Companhia de Eletricidade do Amapá, a CEA.
Diário – A Eletronorte então ressarciu a CEA pelos investimentos que já haviam sido feitos na construção?
Marcos – Sim. Foi feito um ajuste de contas por parte da Eletronorte para poder ter esse direito para terminar essa obra e assumir a geração. Tanto é que nós temos todos os documentos que mostram esses pagamentos, inclusive a área, o custo da área física, do terreno, está tudo em cartório.
Diário – E com a interligação ao sistema nacional, como isso vai ser repassado?
Marcos – Pois é, as futuras subestações que hoje são da Eletronorte, que fazem a distribuição, que é uma obrigação da Companhia de Eletricidade do Amapá, a Eletronorte vai ter que repassar essas unidades para a CEA e aí vai haver novamente novo ajuste de contas.
Diário – E os servidores da Eletronorte lotados aqui no Amapá. Qual a situação trabalhista deles, do ponto de vista do vínculo e regime de contratação?
Marcos – Todos são concursados, ou seja, ingressaram por meio de concurso público em nossos quadros, sejam eles administrativos ou técnicos.
Diário – O cargo que o senhor exerce, de gerente regional, é privativo de técnicos de carreira da estatal?
Marcos – É. Essa é uma condição que a empresa coloca, que todo cargo em nível de gerência, nível G1, que a gente chama na empresa, tem nível de superintendência e só pode ser ocupado por funcionários da empresa. Nós não temos aqui, nem na sede em Brasília, onde está concentrado o maior número de funcionários, terceirizados ou não concursados. Somente os membros da diretoria não são funcionários, são indicados pela Eletrobrás.
Diário – Seu antecessor, o engenheiro Antônio Pardawill, deixou o Amapá para assumir a Eletronorte em Tucuruí, onde a usina é muito maior, foi uma promoção, digamos assim?
Marcos – Na verdade a nível gerencial ele continua no mesmo patamar, gerente de uma regional, agora, a hidrelétrica do Tucuruí é uma senhora hidrelétrica... [risos] É a maior hidrelétrica genuinamente brasileira, com 4,2 mil megawatts gerando continuamente, gerando até 7 mil megawatts.
Diário – E aqui, na Coaracy Nunes, geramos quanto de energia?
Marcos – Aqui geramos 78 megawatts... É uma diferença bem grande.
Diário – O senhor tem uma vida na Eletronorte do Amapá, gerenciando esses anos a única usina hidrelétrica local, então vê como esses novos investimentos e a chegada de três usinas novas ao Amapá, as de Santo Antônio, Ferreira Gomes e agora Caldeirão?
Marcos – Olha, isso é muito bom para o desenvolvimento do Estado, é necessário, e saber explorar o potencial hidrelétrico do Rio Araguari é muito bom.
Diário – Com isso teremos três usinas no mesmo rio, Coaracy, Ferreira Gomes e Caldeirão, não é?
Marcos – Sim, em cascata. A água que vai passar na primeira usina, que é Caldeirão, gerando energia, é a mesmo que vai passar em Coaracy Nunes e a mesma que vai gerar energia na usina Ferreira Gomes. Então se essa água gerar 100 megawatts na primeira, tem condições de gerar 100 megawatts em Coaracy Nunes e mais 100 na usina Ferreira Gomes. Aí serão 300 megawatts de uma vez só com a mesma água, o que é muito importante. Isso é oferta de emprego para o estado, o que contribui bastante.
Diário – Com a federalização da CEA houve a quitação da dívida que a companhia amapaense tinha com a Eletronorte?
Marcos – Bom, primeiro que ainda não aconteceu a federalização. O que houve foi uma gestão compartilhada.
Diário – Estamos em processo de federalização, é isso?
Marcos – Não diria nem isso. A proposta foi fazer uma gestão compartilhada entre a Eletrobrás e o Governo do Estado, onde a Eletrobrás indicou o presidente e um diretor técnico. O Governo do Estado indicou mais dois diretores. Para que a Eletrobrás pudesse auxiliar na gestão da CEA houve essas negociações culminando principalmente com a quitação da dívida.
Diário – Isso ficou consignado no acordo?
Marcos – Sim, a dívida foi parcelada em três parcelas, já foram pagas duas e ano que vem, em janeiro, deve ser paga a terceira.
Diário – O valor total ficou em quanto? Houve a amortização dos juros?
Marcos – Na negociação houve o perdão dos juros e multas, então a dívida que estava em torno de R$ 1,1 bilhão caiu para R$ 750 milhões, parcelados, como disse, em três parcelas iguais.
Diário – A energia do Linhão do Tucuruí já está em Macapá?
Marcos – Olha, segundo o Canal Energia, que é o órgão de divulgação do setor elétrico, essa energia já chegou a Macapá.
Diário – E com ela a fibra ótica?
Marcos – Exatamente.
Diário – E a internet também?
Marcos – A possibilidade da banda larga também. A gente tem ouvido notícias de que as empresas que trabalham com a internet estão fazendo o cabeamento na cidade com fibra ótica para justamente atender essa demanda.
Diário – Pelo que se sabe falta apenas a conclusão das obras de duas subestações abaixadoras de energia, isso está em curso não é?
Marcos – Pelas informações que temos da Companhia de Eletricidade do Amapá são obras que estão se desenvolvendo e logo logo vão estar disponíveis para receber a energia de Tucuruí.
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