Chores por mim
Foi de Lovelock a expressão de que “a Terra” é um ser vivo. Em sua bilionária história, milhões de vezes ela deu sinal de que ainda não morreu solitária, com um sol apagado. Muitas das cidades descobertas pelos arqueólogos mostram terem sido vítimas de terremotos. Somente depois que o homem dominou a escrita esses episódios puderam ser documentados. Muitas catástrofes imponderáveis passou nosso planeta. A maior delas foi o meteoro do Golfo do México, que acabou com noventa por cento das espécies e mergulhou a Terra numa escuridão profunda. Antes da escrita, na tradição oral, só restou o Dilúvio, que parece ser comum a todas as antigas civilizações. Até o Colosso de Rodes foi destruído por um terremoto. Vejo uma grande especulação sobre a atual fase como se fossem “sinal dos tempos” tantos terremotos e tsunamis juntos. É claro que só agora, com as novas tecnologias da informação, podemos saber instantaneamente o que ocorre em qualquer lugar e em qualquer minuto. As catástrofes são “globalizadas” e as vivemos dentro de casa, com um simples clic. Há muito tempo li um livro sobre a vida cotidiana em Lisboa no tempo do terremoto de 1755. O remédio a que se recorria era a prática de orações, porque aquela catástrofe tinha sido feita por Deus para punir os pecados. E eram missas e mais missas em todos os lugares, ladainhas, procissões implorando ao Criador que os perdoassem. Recomendavam as confissões — hoje, um padre de Nova Iorque oferece confissão pelo celular, mediante o pagamento de um dólar e o custo da chamada. O rei, Dom José, debaixo de uma tenda em Belém, sem querer regressar ao palácio, mandou chamar o futuro Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, que lhe deu a solução para acabar com os saques e os incêndios em Lisboa com a famosa frase: “enterrar os mortos e cuidar dos vivos”. Por mais que tenhamos descoberto tudo sobre a natureza é muito maior o acervo do que falta descobrir. O sismo do Japão teve conseqüências planetárias. O eixo da Terra deslocou-se em 16,5 centímetros e acelerou o movimento de rotação. O Japão tornou-se mais largo do que era e o dia diminuiu 1,8 milionésimos de segundo. A Terra ainda se contorce num processo de acomodação dos seus bilhões de anos. As usinas atômicas de Fukushima foram projetadas como invulneráveis. Os fatos mostram que a energia nuclear é de controle impossível. Se com as usinas invulneráveis acontecem estes imprevistos, o que não pensar sobre as milhares de ogivas nucleares. Revisão de todas as tecnologias de produção de energia nuclear e eliminar toda e qualquer arma nuclear da face da Terra, eis nossa tarefa. Só assim, podemos dormir intranqüilos.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
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