quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

José Sarney

Macapá: misto de força, ternura e bondade

Segundo nosso saudoso Câmara Cascudo, o povo sabe inventar etimologias surpreendentes para topônimos. O nome de Olinda seria por ter Duarte coelho dito, vendo o local : "Oh! Linda posição para uma cidade!" No Rio Grande do Norte, terra do nosso folclorista, os potuguar são craques nisso. A praia da Redinha veio da rede de dormir, indispensável no local; a cidade de Augusto Severo, outrora Campo Grande, nasceu da frase: “Que campo grande bom para criar gado!”. Portalegre é: “Parece uma porta alegre do sertão!”. Todas essas explicações são, na verdade, invenções soberanas e criativas do povo criadas para suprir a razão verídica, etimológica, do topônimo. No caso de nossa Macapá, que comemora longos e heróicos 252 anos, a toponímia é de origem tupi, uma variação de "macapaba", que significa lugar de muitas paineiras bacabas, cujo nome científico é Oenocarpus bacaba Mart. Mas, antes de se chamar Macapá, o primeiro nome concedido oficialmente a esta terra foi Adelantado de Nueva Andaluzia, nome dado em 1544 por Carlos V do império Habsburgo, quando concedeu a Francisco de Orellana a posse da região. Mas, por alguma hipótese, se o povo tucujú fosse chamado a renomear livremente a capital do Amapá, teria todos os motivos para chamá-la de guardiã, amiga, amor. A verdade é que Macapá é simples como uma bela moça morena dos tucujus. Espraia-se, plana, vigiando dia e noite o desaguar deste lado do Amazonas. Ela tem os ventos que vêm do grande mar oceano, brisa que lhe acaricia o corpo e os cabelos compridos. Macapá, moça morena de lábios de sol e olhos de chuva. É a capital dos vastos territórios que daqui só terminam nas barrancas do Oiapoque, passando por lagos, rios, campos, florestas, chapadas, riachos e montanhas. A paisagem humana de sua gente, no seu falar cantado, descendo e subindo sempre nos barcos, rio vai e rio vem, em demanda das ilhas ou dos pequenos portos, povo ribeirinho que passa o tempo navegando. Macapá, misto de ternura e bondade, gente boa, raça forte.

José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa
jose-sarney@uol.com.br

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