A Roda do Mundo
Nova York — Há 44 anos visitei esta cidade pela primeira vez. Agora, uma vez mais, estou aqui, lugar que é uma soma de várias cidades superpostas, interpostas e miscigenadas, não se sabendo as linhas abstratas que as separam. Diz-se com razão ser a metrópole mais próxima dos Estados Unidos, embora nos Estados Unidos. Penso na velocidade com que testemunhei as imensas transformações do meu tempo. Mais breve do que previsível um negro governa os Estados Unidos. Aqui, ninguém toma conhecimento disso e, como no Brasil, as pessoas passam a contar mais que os países, cada um encolhendo para dentro de si e dos seus problemas. Há sempre uma distância muito grande entre os que são o governo e as emoções das pessoas que votaram para constituí-lo, nesse processo que é a mais sofisticada descoberta do homem, no sentido de criar e organizar o auto-governo, batizado pelos gregos de democracia. Faço essa reflexão para dizer da grande frustração que vejo sobre o Presidente Obama, na contra-mão de tudo que sonharam os seus adeptos e lembro-me do que ouvi de Helmut Schmidt: “ninguém governa o tempo que governa”. Caiu no colo de Obama a maior crise econômica já vivida pelos EUA, de certa forma maior que a de 1929, quando não existia o mundo globalizado e o efeito dominó. Ainda não passaram os efeitos da crise de 2008. E esse medo maior comanda a perplexidade da superação dos danos deixados: o que vai acontecer com a Europa e o euro. A globalização fez com que não haja solução se não for de todos. Nada mais sábio do que o ensinamento bíblico de que cada dia tem sua agonia. Viver é a soma das agonias. Em 1961, eram os negros, hoje os muçulmanos, era a Rússia descobrindo a bomba de hidrogênio, hoje, é conter uma tecnologia que não tem mais segredos, e evitar que ela possa se expandir e venha a explodir o mundo. É o caso da Coréia do Norte e do Irã. O Brasil assumiu o lugar esperado. Não mais o país do futuro mas um global player, um país do presente, inserido no jogo mundial. Leio e transcrevo Felipe Gonzalez, quando disse há alguns dias num auditório mexicano que nós olhamos os Estados Unidos ainda pensando no sonho americano, o American dream, mas a realidade é que “Clinton não era tão esperto como julgávamos, nem Bush tão burro quanto achávamos, nem as raízes de Obama tão quenianas quanto os americanos pensavam”.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa
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