Senador José Sarney cumprimenta o papa Bento XVI.
Brasília – Foto: Ricardo Stuckert
Papa e São Bento
Na minha infância, a maior parte vivida em São
Bento em casa dos meus avós paternos, Dona e José Costa, o Papa, o Santo Padre,
como se chamava, era uma figura sagrada, apontada como um santo na terra e
colocado numa redoma em Roma onde tinham acesso apenas os escolhido por Deus.
Nem seu nome era conhecido pelos cristãos, porque as missas eram em latim e não
havia a oração da comunidade para dar chance a que se rezasse por ele. Pela
graça de Deus, nos longos anos que Ele me deu, vivi sob o tempo de sete Papas. Quando
nasci era Pio XI, um pontífice que tinha uma visão social, condenou o nazismo e
o comunismo e pregava que a igualdade seria alcançada pela doutrina social da
igreja. Morreu em 1939 e foi eleito o seu pupilo, então Secretário de Estado do
Vaticano, o Cardeal Pacelli, homem de grande valor intelectual. Quando cardeal
visitou o Brasil, em 1934. Foi ele que proclamou o dogma da Assunção de Nossa
Senhora. Seu pontificado foi marcado pela Segunda Guerra Mundial, quando foi
apontado por uns como condescendente com o nazismo e, por outros, como tendo
uma posição destinada a salvar judeus e católicos das perseguições de Hitler.
Morreu em 1958, quando eu tinha 28 anos e vi a eleição de João XXIII, o Papa
que criou a igreja moderna com o Concilio Vaticano II. Durou poucos anos e foi
sucedido por Paulo VI (1963 a
1978). A este já conheci pessoalmente e a ele assisti, em companhia do grande
nome da diplomacia brasileira, embaixador Expedito Rezende, celebrar a missa de
Natal de 1977, já bem velhinho e com muito dificuldade para ajoelhar-se.
Depois, quando ele morreu, em 1978, vivi os trinta dias de João Paulo I, o Papa
Sorriso. Como todo o mundo cristão assisti o anúncio na televisão da escolha do
Cardeal Woityla, polonês, como João Paulo II, o grande Papa do nosso tempo,
essa figura carismática que, com sua capacidade e fé, evitou o cisma da Igreja
e foi um momento de grande brilho do catolicismo, inclusive como homem de
Estado que mudou a História evitando a confrontação nuclear ao ajudar a queda
do mundo comunista. Com ele estive três vezes, duas vezes em audiência pessoal,
e por ele fui convidado a assistir à missa particular que celebrava em sua
capela pessoal, no Vaticano. Roseana, também, uma vez que passou por Roma foi
convidada por ele para assistir sua missa privada. Ele a tratava sempre com
grande carinho. Minha mãe, quando ele foi eleito, me perguntou perplexa: “Meu
filho, escolheram um Papa comunista?” Foi difícil para ela entender que um
homem vindo da Polônia vinha justamente para combater o comunismo que, para
ela, era contra Deus, contra a Igreja e perseguia os cristãos. Depois, entre as
felicidades que arrolava como graça de Deus para com ela estava ter visto e
comungado pela mão de João Paulo II, quando ele visitou o Maranhão. “Deus foi tão
generoso comigo que me deu a ventura de ver o Papa e dele receber comunhão.” A
figura do Papa nas alturas me foi passada pela minha mãe e encheu minha
infância e minha vida. Com a morte de João Paulo II, viajei do Brasil em
companhia de Dom Odilo Scherer – que agora é papável – para assistir seu
funeral e vi a eleição de Bento XVI. Estive com o Papa Bento XVI duas vezes:
uma em audiência em companhia do Embaixador Seixas Corrêa, outra quando ele
visitou o Brasil. E agora estou assistindo a escolha de um novo Papa, o oitavo
de minha vida, num momento tão difícil de nossa Igreja. Ela atravessará todas
as dificuldades, como atravessou todos os tempos. O Papa será sempre o Papa da minha
infância em São Bento, símbolo da fé, guia espiritual de todos nós.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
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