Governador Waldez Góes esteve na Califórnia, onde brilhou ao fazer exposição sobre soluções florestais
Em mais uma missão internacional como governador do Amapá, Waldez Góes foi aos Estados Unidos nessa semana para participar não como um simples ouvinte de um fórum envolvendo líderes mundiais de países ricos e desenvolvidos, mas como protagonista de um momento histórico que aconteceu em um dos países que mais poluem o planeta. Com a autoridade de comendar um Estado preservado e no coração da maior floresta do mundo, o governador amapaense disse em uma entrevista concedida ontem à Rádio Antena 1 FM que usou de muita franqueza para reivindicar compensações da comunidade mundial por que brasileiros típicos como os índios, os agricultores e os demais trabalhadores merecem ajuda por estarem fazendo a sua parte e mantendo a Terra respirando. Filho de seringueiro, Waldez conseguiu roubar a cena na Califórnia.
"Enquanto filho da Amazônia, caboclo da Amazônia, como filho de seringueiro, um cara que nasceu na floresta, que conhece profundamente os problemas da população e da Amazônia e que por isso tem moral, crédito para defende-la."
Diário do Amapá – É algo diferente mesmo fazer uma entrevista por telefone com alguém que está tão longe. Bom dia governador?
Waldez Góes - Bom dia, é um prazer grande falar nesta manhã de sábado, pois logicamente eu acordei mais cedo do que você... (risos) devido à diferença do fuso horário.
Diário - Que boas novas o senhor nos conta hoje, governador?
Waldez - Nós ontem (sexta) encerramos esse trabalho maravilhoso aqui, reunindo centenas de pessoas de todo o mundo, encerramos com a assinatura de um documento glo-bal de soluções climáticas 2009 que será levado a Copenhague. Foi uma grande conquista, pois passamos três dias em vários encontros, com vários painés. Eu vim para cá na quarta-feira e desde então tivemos várias reuniões com o Schwarzenegger (Arnold Schwarzenegger) e avançamos muito, porque uma das propostas nossas era incluir a floresta no tratado de Copenhague.
Diário - O que isso irá representar para os povos que moram nessa imensa floresta aqui no Brasil?
Waldez - É para que a floresta seja reconhecida na questão do crédito de carbono, uma vez que nós somos preservadores da floresta e mas nós precisamos logicamente receber compensações por isso e graças ao bom Deus houve um sentimento muito forte aqui da comunidade dos Estados Unidos e de várias outras lideranças do mundo inteiro.
Diário - Que outras lideranças mundiais estiveram participando desses encontros aí, governador?
Waldez - Nós tivemos aqui líderes da Europa, como o Tony Blair, por exemplo, que esteve aqui, participou também, nós tivemos líderes da África, do México, da China, do Brasil, enfim, de várias partes do mundo e todos aceitaram os argumentos dos governadores da Amazônia brasileira.
Diário - Então a sua avaliação do encontro podemos di-zer que foi a melhor possível? Os objetivos propostos foram alcançados?
Waldez - Sim, foi um fórum muito importante e que vai somar muito com o fórum que nós vamos fazer em Macapá agora nos dias 15 e 16 de outubro, que é o Fórum dos Governadores da Amazônia, para ouvir e fechar todas as propostas para serem levadas em dezembro para a Dinamarca.
Diário – É algo emblemático que isso tudo esteja acontecendo exatamente nos Estados Unidos, não é mesmo?
Waldez - Foi uma grande conquista sentir, perceber o respeito hoje que os Estados Unidos e outras comunidades mundiais têm com o Brasil, então eu estou feliz porque nos Estados Unidos, que resistiram em relação a Kyoto (Tratado de Kyoto), hoje tem um movimento que eles chamam de go-vernos subnacionais. Então é comum aqui nos Estados Unidos quando eles começam a legislar nos Estados, essas decisões acabam servindo de laboratório para o governo central. E é o que tem acontecido na questão climática.
Diário - Daí a importância desse fórum realizado em um desses estados, a Califórnia, não é mesmo?
Waldez - Exatamente. Aqui na Califórnia, que é um Estado industrializado, um estado muito rico, onde ficam os estúdios de Hollywood, então acaba ditando muito as regras, até a moda, digamos, onde o que eles fazem serve de modelo para o país como um todo. É o que está acontecendo, pois hoje os Estados Unidos estão com leis tramitando no Congresso nacional sobre a questão climática e leis que beneficiam as teses que nós estamos defendendo no Brasil em relação à floresta e isso se deve muito a essa articulação desde o ano passado que a gente vem fazendo não só com a Califórnia mas com outros Estados americanos e que se a Califórnia aprovar certamente influenciará para que o governo nacional o faça.
Diário - E esses outros estados americanos estão sensíveis aos problemas amazônicos, eles podem também entrar nessa corrente positiva e influenciar o governo central?
Waldez - Nós estamos recebendo tanto apoio dos governos locais dos Estados Unidos para a nossa tese de incluir as florestas para o pagamento por serviços ambientais como a posição dos Estados Unidos começa a melhorar muito para a reunião em Copenhague. Certamente o que aconteceu em Kyoto há dez anos atrás, quando os Estados Unidos não assumiram uma responsabilidade maior com relação ao aquecimento global e as demais questões climáticas, hoje já é totalmente diferente. A gente já vê aqui eles dizendo em querer liderar isso, de resolver com a sociedade mundial esse problema climático, que é muito sério.
Diário - Só essa mudança de posicionamento dos estados Unidos já terá valido a viagem, podemos dizer governador?
Waldez - Isso. Foi muito positivo e vai agregar muito a todo esse movimento internacional e nacional também que nós estamos fazendo em favor da Amazônia.
Diário - O senhor já cumpriu outras agendas internacionais com forte apelo ambiental, como no encontro dos parques mundiais, na África do Sul, assim como na Inglaterra a convite do príncipe Charles, em Washington com o Banco Mundial então a pergunta é se por ser o governador do Estado brasileiro mais preservado faz a diferença mesmo, dá maiks moral para chegar a Copenhague em dezembro?
Waldez - Com certeza, não tem a menor dúvida. Mas a nossa responsabilidade também aumenta muito do Brasil para ir a Copenhague. Até porque nós vamos ter a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016 e todos já ouviram falar que a Copa tem a proposta de ser uma copa verde, uma copa com responsabilidade ambiental, tanto é que terá uma sede na Amazônia brasileira que será Manaus.
Diário – O Brasil de fato se coloca em uma posição estratégica, como peso político o senhor diria?
Waldez - É muito bom que o Brasil esteja nessa articulação com a comunidade mundial porque sem a presença decisiva dos estados Unidos, da China e da Índia, que são paí-ses mais poluentes, fica mais difícil. As pessoas podem até perguntar se todas essas discussões ocorrem num dos países que mais poluem, então digo que assim com estou hoje aqui, vou estar daqui a duas semanas no meu estado recebendo vários governadores da Amazônia sendo o estado mais preservado, daí a importância de estarmos nessa interlocução direta com os estados que mais poluem e com a comunidade mundial para que eles possam assumir compromissos com a humanidade.
Diário – Afinal de contas até a poderosa Califórnia tem lá seus problemas, não é mesmo?
Waldez - Eu vi aqui na Califórnia que eles têm problemas sérios de queima de madeira, problemas sérios com a energia, pois a grande parte é produzida a carvão, têm problemas com terremotos e têm problemas sérios de emissão de gases de efeito estufa, por conta do número de veículos que eles possuem. Se uma família for de cinco pessoas, cada uma tem um carro e vai para o seu trabalho nele, ou seja, o carro é como se fosse uma extensão da sua casa.
Leia a entrevista completa...
Diário - Imagina então a qualidade do ar que eles respiram por aí não é mesmo?
Waldez - Esse é um dos maiores problemas que eles enfrentam. Quando amanhece o dia tem uma camada, di-gamos assim, de poluição sobre a cidade. É preciso que eles informem como é que está a qualidade do ar para ser respirado naquele dia, então é um local rico mais com problemas ambientais sérios. A nossa estratégia então é sensibiliza-los, para que tenhamos mudança mundial de padrão de desenvolvimento, pois os modelos de desenvolvimento predominantes hoje e padrão de consumo é que fazem com que o nosso pla-neta seja poluído e destruído do jeito que vem sendo. Isso é muito sério e por isso que nós estamos articulando tudo a muito tempo também para saber os dados do Brasil, pois no século passado tivemos uma elevação da temperatura 0,75 graus e existem indicativos para esse século para os mais pessimistas até 8 graus e para os menos pessimistas 4 graus.
Diário - Esse é um dado realmente alarmante. O que mais pode ser pior do que isso?
Waldez - Se a temperatura global aumentar até 2 graus nesse século, é suficiente para acabar com 30% a 40% das nossas florestas. Então a coisa é muito séria e nós estamos nessa mobilização, seja na África, na Inglaterra e outra vez estivemos aqui nos Estados Unidos com o Bill Clinton e agora com o Schwarzenegger e também com o Tony Blair, que é um grande líder nessa área e agora a gente chega a Copenhague com um comprometimento maior dos países mais desenvolvidos, os mais ricos e consequentemente os maiores poluentes, aqueles que degradam mais, que jogam mais gases na sua atomosfera. Então eu acho que o Brasil está assumindo uma posição importante, afinal nós estamos aqui com cinco go-vernadores da Amazônia. Eu tive oportunidade de participar de dois painés importantes com várias lideranças mundiais onde coloquei claramente a posição de proteção da Amazônia brasileira e que nós não abrimos mão de chegar a Copenhague com o nosso presidente Lula defendendo a inclusão da floresta no mercado de carbono, pois queremos gerar emprego, gerar oportunidade para o nosso caboclo, para o nosso índio, queremos que chegue na ponta do fio, nas mãos do agricultor para o extrativista, aquilo que durante séculos eles vêm tendo o compromisso de preservar, que é o benefício pela preservação dessa floresta.
Diário - Como isso seria concretizado? Qual seria o formato para que essas compensações pudessem chegar até eles?
Waldez - Nós queremos que a comunidade mundial garanta um fundo instituído pelos países ricos
para financiar projetos de desenvolvimento sustentável, para financiar projetos de combate ao desmatamento e nós queremos que os países que mais emitem gases para a atmosfera ao invés de esperarem até 2050 para diminuírem até 30% de suas emissões, que a gente possa fechar questão até 2020. Acho que a comunidade mundial não pode esperar até 2050 para diminuir essa quantidade de poluição que é colocada na atmosfera.
Diário - Para fechar com um tema mais ameno, o que mais lhe deu saudades do Brasil nessa viagem aos Estados Unidos, governador?
Waldez - Ah, certamente o peixe... (risos). Estou com muita vontade de comer um peixinho quando chegar aí... Mas na verdade a gente sente saudades sim, o clima aqui é muito seco, pois a cidade que nós estamos fica num deserto, mesmo às margens do Oceano Pacífico, mas num deserto, como num vale, com muitas montanhas ao redor. Mas na verdade estou muito feliz porque o Amapá tem se destacado e eu tenho procurado cumprir esse papel de traba-lhar dentro do meu estado, tratando os problemas que dizem respeito à população, mas sem perder de vista e dedicar parte do meu tempo para as questões da Amazônia, porque diz respeito diretamente a gente, e das questões nacionais e também das articulações internacionais. Quero dizer que me honra muito representar o povo do Amapá aqui nos Estados Unidos, tratando de questões da humanidade, enquanto filho da Amazônia, caboclo da Amazônia, falando com o coração, a gente não faz rodeio para falar com as pessoas que estão aqui, como filho de seringueiro, um cara que nasceu na floresta, que conhece profundamente os problemas da população e da Amazônia e que por isso tem moral, crédito para defende-la.
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