Assim que deixaram o aeroporto da capital Caiena, onde foram recebidos pela cônsul-geral do Brasil, ministra Ana Lélia Benincá Beltrame, os senadores percorreram as esburacadas ruas do Arc-en-Ciel, o bairro que os brasileiros chamam de Arco Íris. Na entrada, um pequeno campo de futebol e muito lixo espalhado ao lado de um contêiner. No local onde vivem trabalhadores de limpeza, construção e outros serviços, não há escolas ou postos de saúde. Os investimentos públicos demoram, segundo a cônsul, em uma aparente tentativa de desestimular a criação de novos bairros semelhantes.
- Cada vez que melhoram um bairro, aparecem mais brasileiros - relatou.
Em seu encontro com Daniel Férey, o préfet - uma espécie de governador, autoridade máxima da Guiana Francesa, que permanece como parte do território da França, da qual é um "departamento ultramarino" -, o senador Eduardo Azeredo solicitou maior atenção aos moradores do Arco-Íris. O parlamentar, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, disse reconhecer que, além dos cerca de 6 mil brasileiros que vivem de forma legal no departamento francês, existem milhares de outros em situação irregular que "trazem problemas, mas precisam de compreensão". Por outro lado, defendeu a conclusão da rodovia que ligará Macapá à fronteira e da ponte entre o Amapá e a Guiana.
- Esta é uma porta de entrada para a Europa - afirmou.
Heráclito, por sua vez, anunciou a provável retomada, em 2010, dos vôos da empresa aérea TAF entre Fortaleza, São Luis, Belém e Caiena. A empresa, segundo informou, está concluindo as negociações para a obtenção de financiamento para a compra de novos aviões da Embraer, para reiniciar a linha.
O governador lembrou que a fronteira entre a Guiana e o Brasil é de mais de 700 quilômetros - a maior entre a França e qualquer outro país. Reconheceu que muitos guianenses têm origem brasileira. Mas demonstrou grande preocupação com a utilização de mercúrio pelos garimpeiros brasileiros que entram ilegalmente nas florestas do departamento. O cabelo das crianças índias do sul da Guiana, alertou, contém índices de mercúrio duas vezes superiores aos aceitos pela Organização Mundial de Saúde.
- O problema aqui não é de desmatamento ou de evasão do ouro; é sobretudo um problema de saúde pública - disse Férey.
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Simpatia
No Conselho Regional, composto por parlamentares eleitos pela população da Guiana Francesa, os dois senadores receberam uma grande demonstração de simpatia pelo Brasil. O presidente do conselho, Antoine Karam, afirmou que os povos da América do Sul habitam um "grande espaço comum" e defendeu maior aproximação da Guiana Francesa com os países vizinhos. Ele recordou que a população da Guiana sobreviveu à 2ª Guerra Mundial graças aos suprimentos enviados pelo Brasil - inclusive de cadernos escolares por meio dos quais os antigos habitantes locais aprenderam a letra do hino brasileiro.
Após declarar sua defesa de maior autonomia em relação ao governo de Paris, Karam admitiu que uma parte da sociedade da Guiana não tem uma boa imagem dos brasileiros que vivem ali de forma ilegal. Mas ele defendeu os imigrantes.
- Os brasileiros não são apenas garimpeiros que trazem problemas. Eles são explorados e humilhados. E são brasileiros, mas também franceses - disse Karam.
Marcos Magalhães, enviado especial da Guiana Francesa / Agência Senado
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