quarta-feira, 29 de maio de 2013

“Uma das figuras mais representativas da imprensa brasileira”, diz Sarney sobre Ruy Mesquita


Foi com emoção que o senador José Sarney (PMDB-AP) fez, na tarde de quarta-feira (22), no Plenário do Senado, uma homenagem à memória de Ruy Mesquita, diretor do jornal Estado de S.Paulo, falecido na última terça-feira (21): “Sinto que, com ele, desaparece um pedaço da história do Brasil”. Sarney disse que cultivou com Ruy uma estreita ligação e apreço. Mas lamentou que a vida os tenha separado do convívio nos últimos anos. “Estivemos juntos pela última vez há uns oito anos. Mas nunca deixei de ter um grande apreço por ele – pela sua coerência, pela sua firmeza, pelo seu espírito jornalístico, pela dedicação com que entregou-se diariamente à feitura do Jornal da Tarde, onde queria imprimir uma imprensa moderna, que queria modernizar, mas dizendo, ao mesmo tempo, que gostava mais da imprensa conservadora.” Para Sarney, Mesquita simbolizou o jornalismo no Brasil. “Eu e ele, a minha geração, tivemos a oportunidade de olhar mais para o passado do que para o presente e já sem condições de prever exatamente o futuro. E, com essa noção do passado, posso avaliar o que significa a perda do jornalista Ruy Mesquita. Ele era uma das figuras mais representativas da imprensa brasileira, não só do tempo presente, mas, sobretudo, do tempo passado”, disse.

Sarney e O Estado de S.Paulo

Sarney contou sua relação com o jornal Estado de S.Paulo desde 1958, quando, junto com Carlos Lacerda, ouvia os conselhos políticos do Dr. Júlio Mesquita Filho. “O então Deputado Carlos Lacerda e eu – eu era seu vice-líder – fazíamos parte de um grupo que tinha uma grande admiração pelo Dr. Júlio Mesquita Filho e, ao mesmo tempo, tínhamos um hábito de ouvi-lo sobre as posições que a UDN deveria tomar. Nesse período, então, tivemos uma estreita relação com O Estado de S. Paulo, sobretudo para que tivéssemos a concordância do Dr. Júlio com a atitude que desejaríamos tomar, tão grande era a importância, o respeito e a ascendência moral e política que o Dr. Júlio exercia sobre o País e, particularmente, sobre a UDN e sobre uma parte da UDN na qual eu me incluía. Nessa época, reuníamo-nos muito na sede de O Estado de S. Paulo, embaixo. Dessas reuniões, fazia parte o Carlão Mesquita, que, naquele tempo, antes de seus irmãos, defendia essa tese. Ele, que morreu cedo, era um homem brilhante. Foi uma injustiça do destino que ele tivesse desaparecido tão cedo. Depois, íamos diretamente ao Dr. Júlio. Algumas vezes, estive com ele e posso dizer que gozava de seu apreço e de certa consideração, sentimentos que eram recíprocos. Consideração essa que se estendeu, sem dúvida alguma, à estreita relação que passávamos a ter com O Estado de S. Paulo”, narrou Sarney. Sarney lembrou ainda que, quando a censura ameaçou o Estado de S.Paulo, em 1973, durante o regime militar, ele subiu à tribuna para defender o jornal, fato considerado ousado e temerário em um dos tempos mais duros da ditadura brasileira. “O Estado de S. Paulo, então, recebia um forte ataque seguido de restrições, a última delas nesse dia: a apreensão do jornal, além de sua censura. E eu fiz, nesta Casa, um discurso de solidariedade a O Estado de S. Paulo e contra qualquer maneira de cercear a imprensa brasileira. Eu dizia: Por um imperativo de consciência [este, o discurso que fiz] do qual não posso fugir e pela memória de uma amizade [que era com o Dr. Júlio] a que não posso faltar, trago a esta Casa o testemunho do meu respeito e do respeito da Nação brasileira a esse grande jornal que, por três gerações, mantém uma conduta que, se muitas vezes pode provocar divergências e ressalvas, nunca se pode deixar de dizer que se trata de uma glória não só da imprensa brasileira, como da imprensa mundial. E acrescentava eu, Sr. Presidente, que o conceito de liberdade de imprensa não era mais aquele conceito romântico do nosso grande Rui Barbosa, cuja figura inspira os trabalhos desta Casa, quando ele dizia que a imprensa significava os pulmões da democracia, mas que nós evoluímos para o fato de dizer que a liberdade de imprensa era um direito e, mais do que isso, dizia eu: “chegaram os tempos em que a liberdade de imprensa passou a ser fundamental para a democracia, de tal modo que hoje ela não é mais uma aspiração liberal; é um direito do homem, como o é o direito à saúde”, recordou o ex-presidente da República.

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