Itaipu: solução ou problema
Torci pela vitória do ex-bispo Lugo. A alternância de poder é um aprofundamento da democracia. Seus exageros de campanha são arroubos de luta. O governo lida com realidades, na famosa concepção de Bismarck. Lugo está certo quando cobra de Itaipu maior transparência e resultados para o seu país, mas está errado em atribuir a falta deles ao Brasil, quando são uma posição política do Paraguai, cujo governo até hoje mantém um inaceitável segredo para o seu povo de quanto e como é empregado o que recebe e como funciona a binacional de Itaipu. Estava no Senado quando o Tratado de Itaipu foi aprovado, em 1973. Antes, uma grande discussão, técnica e política, se estabeleceu no país sobre o aproveitamento energético do rio Paraná. Se deveria ser numa usina toda em território nacional ou num projeto conjunto com o Paraguai. Desde a década de 50 o Brasil começou a estudar o potencial energético daquelas águas. O engenheiro Marcondes Ferraz, construtor de Paulo Afonso, foi chamado por Gabriel Passos, nacionalista e grande defensor da soberania brasileira, então Ministro de Minas e Energia, para que expusesse ao presidente Jango a sua solução para o problema. Ele apresentou um projeto que, localizado a 50 quilômetros de Sete Quedas, seria totalmente em território brasileiro, com capacidade de dez mil megawatts e preservando as cachoeiras. Foi um crime inundá-las. Jango mandou que ele tocasse o projeto "a caneladas". O presidente caiu, e o assunto parou. A Escola Superior de Guerra estudava o assunto sob o aspecto estratégico e optou, para unir mais o Paraguai e o Brasil, por uma obra binacional, que teria a vantagem de sepultar uma questão de fronteira -demarcada em 1874 e nunca contestada- inventada pelo chanceler Pastor. O Brasil abdicou do protejo de Marcondes Ferraz para ajudar o Paraguai, país ao qual dávamos um tratamento diferenciado desde a "maldita guerra" na expressão de Doratioto e no desejo de Nabuco de Araújo, Pimenta Bueno, Saraiva e outros. A construção de Itaipu foi toda bancada pelo Brasil. O Paraguai não entrou com um tostão e tem um patrimônio de US$ 30 bilhões, metade do que vale a usina. Compramos a energia a US$ 37 o MW/ h, enquanto eles pagam US$ 24. O Paraguai já recebeu de Itaipu US$ 4,5 bilhões, líquidos. Receberá até 2023 mais US$ 7,5 bilhões. Assim, o ex-bispo Lugo está certo quando defende o seu país e deseja melhor aproveitamento de Itaipu por sua pátria. Mas está errado quando nos chama de imperialistas e espoliadores. Itaipu não pode ser uma dor de cabeça. Ela é um exemplo de solidariedade continental.
Torci pela vitória do ex-bispo Lugo. A alternância de poder é um aprofundamento da democracia. Seus exageros de campanha são arroubos de luta. O governo lida com realidades, na famosa concepção de Bismarck. Lugo está certo quando cobra de Itaipu maior transparência e resultados para o seu país, mas está errado em atribuir a falta deles ao Brasil, quando são uma posição política do Paraguai, cujo governo até hoje mantém um inaceitável segredo para o seu povo de quanto e como é empregado o que recebe e como funciona a binacional de Itaipu. Estava no Senado quando o Tratado de Itaipu foi aprovado, em 1973. Antes, uma grande discussão, técnica e política, se estabeleceu no país sobre o aproveitamento energético do rio Paraná. Se deveria ser numa usina toda em território nacional ou num projeto conjunto com o Paraguai. Desde a década de 50 o Brasil começou a estudar o potencial energético daquelas águas. O engenheiro Marcondes Ferraz, construtor de Paulo Afonso, foi chamado por Gabriel Passos, nacionalista e grande defensor da soberania brasileira, então Ministro de Minas e Energia, para que expusesse ao presidente Jango a sua solução para o problema. Ele apresentou um projeto que, localizado a 50 quilômetros de Sete Quedas, seria totalmente em território brasileiro, com capacidade de dez mil megawatts e preservando as cachoeiras. Foi um crime inundá-las. Jango mandou que ele tocasse o projeto "a caneladas". O presidente caiu, e o assunto parou. A Escola Superior de Guerra estudava o assunto sob o aspecto estratégico e optou, para unir mais o Paraguai e o Brasil, por uma obra binacional, que teria a vantagem de sepultar uma questão de fronteira -demarcada em 1874 e nunca contestada- inventada pelo chanceler Pastor. O Brasil abdicou do protejo de Marcondes Ferraz para ajudar o Paraguai, país ao qual dávamos um tratamento diferenciado desde a "maldita guerra" na expressão de Doratioto e no desejo de Nabuco de Araújo, Pimenta Bueno, Saraiva e outros. A construção de Itaipu foi toda bancada pelo Brasil. O Paraguai não entrou com um tostão e tem um patrimônio de US$ 30 bilhões, metade do que vale a usina. Compramos a energia a US$ 37 o MW/ h, enquanto eles pagam US$ 24. O Paraguai já recebeu de Itaipu US$ 4,5 bilhões, líquidos. Receberá até 2023 mais US$ 7,5 bilhões. Assim, o ex-bispo Lugo está certo quando defende o seu país e deseja melhor aproveitamento de Itaipu por sua pátria. Mas está errado quando nos chama de imperialistas e espoliadores. Itaipu não pode ser uma dor de cabeça. Ela é um exemplo de solidariedade continental.
José Sarney é ex-presidente, senador do Amapá e membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa
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