sábado, 10 de outubro de 2009

Gilvam Borges

O pacifista explosivo

O prêmio Nobel foi assunto da última semana. Cientistas de nomes esquisitos cujas invenções alteraram a ciência e, de algum modo, as nossas vidas passearam pelos meios de comunicação internacional. A descoberta da fibra ótica, motivação de um dos prêmios científicos revolucionou o mercado das comunicações e da me-dicina. Mas as manchetes principais foram por conta da premiação de Barack Obama, o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos da América. Mas não foi esse fato o único motivador, embora carregado de simbologia no País mais segregacionista da história moderna. Lá homens, mulheres e crianças eram e em alguns lugares ainda são segredados, discriminados, numa violação sistemática e histórica de que diante das leis de Deus e dos homens todos somos iguais. O mundo evolui para destinos mais humanitários, numa visão de que a tolerância é elemento essencial nas relações humanas, seja política, religiosa, cultural ou racial. Decerto que não somos animais para apurar-se o pedigree ou a raça. Somos animais não raciais e sim racionais, embora, historicamente, seja impossível não reconhecer a abominável prática de segregar ou discriminar outro ser humano devido a cor de sua pele. Mas para entendermos a relevância do Prêmio Nobel, temos que saber quem foi o homem cujo nome marca é a marca da premiação: o químico e inventor sueco Alfred Nobel. Nobel era filho de um engenheiro civil e inventor e vivia com sua família em Estocolmo, Suécia, até seu pai ir à falência. Ele e os irmãos foram estudar em São Petersburgo. Alfred Nobel se inte-ressou pela literatura e química, e foi enviado pelo pai para estudar no estrangeiro. Após visitar vários países Nobel esteve na França e conheceu um jovem químico Ascanio Sobrero, que inventara a nitroglicerina. Esse encontro fascinou o engenheiro químico sueco pela potencialidade do invento ser aplicado na engenharia civil, ramo empresarial de seu pai. De volta à Suécia Nobel tentava dar uma aplicabilidade prática para a nitroglicerina e arrumar um uso seguro e pacífico para vendê-la. Não obteve, entretanto, qualquer resultado positivo nesse sentido. E foi numa das tentativas de tornar a nitroglicerina um produto mais manipulável, adicionando novos compostos químicos, transformou-a numa pasta moldável. Estava descoberta a dinamite. A descoberta facilitou e facilita a vida de mineradores, demolições em construção civil, a construção de túneis, canais, etc. Mas Nobel, que era um pacifista não pôde evitar a utilização da dinamite na guerra. Nobel também inventou a borracha sintética, mas a dinamite foi uma descoberta que lhe gerou um trauma devido seu potencial bélico. Para remediar o que entendia ser um mal para a humanidade, Nobel, em seu testamento, criou uma fundação que leva seu nome e que premia anualmente, as pessoas que mais tenham contribuído para a humanidade no período, nas áreas da química, física, medicina, literatura e paz mundial. A paz mundial foi a razão da premiação de Barack Obama por seu esforço em empreender uma nova forma dos Estados Unidos relacionar-se com a comunidade internacional. Assim, embora tenha mandado mais homens para o Afeganistão, o atual Presidente americano busca a paz. Reafirma um compromisso com a defesa das liberdades. Fechou a prisão de Guantánamo, proibiu a tortura que estava institucionalizada e quer retirar os americanos do Iraque. Pelo visto alguma lição foi por ele assimilada das manifestações juvenis – queremos paz e não a guerra, que levou milhares de jovens americanos às ruas e posteriormente à revolução hippie. Faça amor não faça guerra! Lema da geração que chega ao poder através de Obama traz em si a carga de humanidade que o mundo inteiro tanto necessita e quer ver. Esperamos que este Nobel possua o mérito da pacificação pretendida por seu autor, que motivou a concessão. E que o passo dado pelo presidente americano não se perca nos tortuosos ca-minhos da construção da dignidade humana.

Gilvam Borges é senador da República e coordenador da Bancada Federal do Amapá

senadorgilvam@gmail.com

Do Diário do Amapá

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