quarta-feira, 13 de abril de 2011

Rosane de Oliveira

E se fosse o seu filho?


Em um país ainda ferido pela morte dos 12 adolescentes da escola de Realengo, três notícias de alunos flagrados com armas em salas de aula no mesmo dia deve fazer disparar o alarme entre pais, professores e autoridades. Esse Estado é o Rio Grande do Sul, que no referendo de 2005 teve o maior índice do país contra o desarmamento: 86,8%. Como nenhum dos três agrediu ninguém, a descoberta das armas não teve a repercussão que deveria, mas é assustador, para dizer o mínimo. Será preciso uma tragédia para que caia a ficha? Em uma escola municipal de Porto Alegre, um adolescente de 16 anos tinha na mochila uma pistola de nove milímetros de fabricação israelense e munição. Em outra, um aluno de 14 anos flagrado com uma pistola calibre .22 disse que sofria ameaças anônimas e carregava a arma para o caso de precisar se defender. Dá para imaginar o que poderia ter acontecido se resolvesse se defender no meio de uma aula? Se dois casos de adolescentes armados no mesmo dia não são suficientes para provocar inquietação, acrescente-se o terceiro: em Santa Maria, uma aluna da sexta série, também de 14 anos, foi flagrada com um punhal. Os fanáticos por armas dirão que não há motivo para pânico. Que, afinal, os meninos não atiraram em ninguém. Mas é claro que há problema. E o mais evidente deles é a facilidade com que se consegue comprar uma arma. Óbvio que nenhum deles foi a uma loja comprar ou tinha autorização para porte. São armas que se compram no mercado clandestino, boa parte obtida em assaltos a cidadãos que se dizem “de bem” e que compram armas para se sentir protegidos. A outra parte vem do contrabando que a polícia não consegue reprimir. É improvável que, apesar da comoção provocada pelo caso de Realengo, um novo plebiscito venha a mudar a opinião da maioria dos brasileiros sobre armas, até porque é muito forte a ideia de que, ao poder público, cabe apenas “desarmar os bandidos”. Mas, se um menino desses que carrega uma pistola para se defender puxar a arma em sala de aula e matar alguém, mesmo que por acidente, vamos achar que está tudo bem? E se a vítima fosse o seu filho?

Rosane de Oliveira é editora de Política e colunista do jornal Zero Hora

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