terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dom Pedro Conti

A multidão colorida do Círio

O que sempre chama a atenção no Círio é o povo que participa. Aos milhares. Tantas pessoas, de toda idade, cor e jeito. Todos tão misturados que parece impossível distingui-los uns dos outros. Uma massa absolutamente anônima, sem rosto. Quem vai saber o que pensa e sente todo aquele povo? Impossível conhecer a situação e as motivações que trouxeram cada um e cada uma para aquele momento. Sentimentos e fé são profundamente pessoais, estão guardados no coração de cada um. Somente os conhecemos se a pessoa decide nos contar a sua história. Mas como? A quem contaria e quem lhe daria ouvido naquele momento? Impossível no meio daquela multidão co-lorida. O que é impossível para os homens, porém, não é impossível para Deus. Cada pessoa que está lá, cantando e rezando, sabe que Alguém a escuta. Aos olhos bondosos do Senhor ninguém é sem nome e sem rosto. Ele conhece todos os seus filhos e filhas. Ele nos co-nhece muito mais e muito melhor do que nós mesmos. O seu olhar é de amor e para quem ama de verdade o outro é sempre importante, único, inconfundível. E Maria? Nós gostamos de chamá-la de mãe e por isso nos sentimos também um pouco como o Menino que ela tem no colo, naquela pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré que carregamos no Círio. Somos todos filhos, todos iguais e ao mesmo tempo diferentes. Cada mãe conhece, ao menos um pouco, os segredos de cada filho ou filha. Pode acertar bastante daquilo que eles sentem, pensam e sonham. Para as mães cada fi-lho é um filho. Cada filha é igual e diferente ao mesmo tempo. Assim deve ser para Nossa Senhora, desde o dia em que Jesus, o seu único Filho, do alto da cruz, a entregou ao apóstolo João dizendo: - Eis a tua mãe. - Isto depois de ter dito também a Maria: - Mulher, eis o teu filho. - Uma nova mãe para um novo filho. Uma mãe para todos os filhos de Deus. Para nós também.

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