segunda-feira, 11 de abril de 2011

José Sarney


100 dias de Dilma

Não sei de onde vem esse costume de avaliação de como começam os que governam. No Brasil é chavão e todos os eleitos se submetem a essa prova. No exterior não sei como essa norma é adotada ou se a aferição é por primeiros meses, luas ou semanas. Penso que talvez a mais remota lembrança venha dos cem dias de Napoleão, célebres na história, pois marcam os exatos cem dias em que, fugindo de Elba, entrou triunfalmente na França na sua caminhada de Golfe-Juan — perto de Cannes — a Paris. Foram dias de glória que terminaram num desastre pessoal: os ingleses o pegaram e levaram para bem longe, no meio do Atlântico, em Santa Helena, onde, segundo os exames recentes feitos em seu cabelo, morreu intoxicado de arsênico. Mais perto temos os First One Hundred Days — os Primeiros Cem Dias —, de Roosevelt, em que lançou as bases do New Deal e da tradição de boa vontade do Congresso com os novos presidentes americanos, abrindo a porta a suas iniciativas legais. Mas a verdade é que todos no Brasil são vidrados nos 100 dias como sinal de sucesso e prenúncio do devir. Já que hoje dispomos de pesquisas científicas e confiáveis, podemos dizer que a presidente Dilma venceu brilhantemente esse tempo e acumulou seus 70% de aprovação na opinião pública, nada mal para quem era chamada de preposta, poste e outras maldades que lhe serraram. Ela impôs o seu estilo, sua autoridade e mostrou que sua capacidade de gestão será a marca de seu governo. O Brasil hoje sabe que a Presidente não é rainha da Inglaterra e sim a mão firme que imprime rumo ao barco. Nada de querer inovar ou modificar o que vinha sendo feito, inclusive por ela como ministra do Presidente Lula, o presidente que mudou a distribuição de renda na sociedade brasileira. É continuidade sem continuísmo. Na área internacional marcou sua política de defesa dos direitos humanos como prioridade, combater os ditadores e apoiar firmemente a democracia. A visita de Obama mostrou como ela soube gerir velhos problemas, exibindo um Brasil que deseja negociar em níveis de um país maduro, lutando contra os protecionismos e capaz de ter relações solidárias, sem paqueras. Por outro lado afirmou seu combate a todas as formas de perseguição às mulheres, quando condenou o Irã e seu governo no processo terrível do apedrejamento de Sakineh. Sua luta maior é contra o seu próprio êxito, isto é, evitar que o crescimento que temos nos leve a uma alta da inflação. No setor interno estamos com uma paz social poucas vezes vivida. Atravessou a eterna guerra de fixação do salário mínimo e dialogou com as centrais sindicais em termos de uma convivência que tinha sempre como meta maior os interesses do País. Na área política tem mostrado que não aceita imposições, mas está disposta a construir sua maioria dentro de princípios sadios, sem barganhas. Assim, se os 100 dias são moeda que tem valor simbólico e prenunciam bons tempos, a presidente Dilma já passou por essa etapa e inspira confiança de que o País não terá solução de continuidade e como as mulheres são competentes."

José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.


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