sexta-feira, 27 de junho de 2008


Olhar distante

Estocolmo, Suécia. Estou aqui na reunião anual de ex-presidentes e chefes de governo para analisar a atual situação do mundo. A ela comparecem experts sobre todos os temas.
Abre a reunião uma brilhante dissertação de Hans Blix, aquele que fez o relatório dizendo não haver sido encontradas armas de destruição em massa no Iraque, foi demitido, censurado e depois confirmou-se que tudo que ele afirmara era verdade. Digo-lhe que o mundo paga caro e ainda vai pagar mais, por Bush fingir não ter acreditado em sua palavra e invadido o Iraque, com a única finalidade de matar Saddam Hussein. Nunca um assassinato planejado teve tantas repercussões. Mais barato – brinca um brasileiro que aqui reside presente a sessão – teria sido contratar a máfia, já acostumada a essas atividades, para fazer o serviço sujo.
A discussão e análise da situação do mundo são otimistas. Chega-se à conclusão de que as mudanças climáticas hoje são reconhecidas por todos como fato sem contestação. Não é mais divagação de ecologistas. O desenvolvimento cientifico continua a ritmo intenso nos transportes, comunicações, informática e economia. A expectativa de vida subirá mais e a mortalidade infantil cairá. A corrida por recursos aumentará com o crescimento populacional. A democracia espalha-se. China e Índia são as vedetes e não se sabe se o século XXI será de uma ou de outra.
No mais são indagações: até quando vamos emitir gases que provocam o efeito-estufa e ameaçam a vida na Terra? Como reduzir essas emissões? A busca de fontes alternativas de energia. O preço do petróleo. A corrida por armas nucleares, Coréia do Norte, Paquistão, Irã, Israel, comprometerá a segurança mundial? Como lidar com o terrorismo? É uma guerra ou é um crime, e como tal deve ser tratado? A crise dos alimentos, a crise dos mercados financeiros acompanhada da decência questionável de até onde vai a responsabilidade dos bancos na especulação. Será que as agências de risco também não devem ser reguladas?
São visões de uma face otimista e indagações pessimistas. Nesse balanço entram os Estados Unidos. Até quando manterão a sua dívida pública de 8 trilhões? Estarão os seus parceiros dispostos a financiá-la? Por quanto tempo agüentarão esta dívida?
E aí entra o Brasil na cadeira das dúvidas sobre os bicombustíveis, o nosso álcool. Explico e defendo nosso programa. Álcool de cana não é álcool de milho. Digo que nosso país vai muito bem. Todos os números macro-econômicos são bons. Nossa imagem é excelente. Faço uma ressalva: no Brasil, só não vai bem a Seleção.

José Sarney é ex-Presidente do Brasil, senador do Amapá e acadêmico da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa

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