quinta-feira, 4 de março de 2010

Tancredo morreu pela democracia, lembra Sarney

"Há homens que dão a vida por um país: Tancredo deu mais, ele deu a morte", discursou o presidente do Congresso, José Sarney, durante sessão solene em homenagem ao centenário de nascimento de Tancredo Neves. Depois de fazer uma retrospectiva da biografia do político mineiro, Sarney contou detalhes da transição democrática brasileira.
Conforme relatou, após ter sido eleito presidente da República, Tancredo foi internado às pressas, na véspera de tomar posse. O político mineiro sabia que o então presidente João Baptista Figueiredo não concordava em empossar seu vice - José Sarney. A preocupação de Tancredo, naquele instante, deixou de ser a própria saúde. A prioridade era devolver a democracia ao Brasil.
- Depois de 51 anos de vida pública, a dor implacável a 15 horas da posse.A internação, a indicação cirúrgica e sua tenaz resistência. Não admite ser operado antes da posse. Aos médicos, resiste, luta, implora: 'Eu peço, pelo amor de Deus: me deixem até amanhã e depois de amanhã façam de mim o que vocês quiserem. Mas eu tenho uma obrigação. É um compromisso que eu tenho. Eu sei, de fonte fidedigna, que o Figueiredo não dá posse ao Sarney' - reproduziu o presidente do Congresso.
Sarney contou ainda que, somente depois de Francisco Dornelles (hoje senador), pensando na saúde de Tancredo, dizer que acabara de ouvir do então ministro-chefe da Casa Civil Leitão de Abreu que Figueiredo transmitiria o governo, o presidente eleito concordou em se submeter à cirurgia. E quando acordou da anestesia, suas primeiras palavras teriam sido: "Então, como foi? O Sarney tomou posse? Correu tudo bem?".
- Mártir, como bem definem as religiões, é aquele que aceita o sacrifício pela sua fé. Tancredo é o mártir. Ele aceita morrer porque esse é seu destino, é a exigência de sua fé: a democracia, a transição. Ele sabia o que custara chegar àquele instante. Se ele aceitasse hospitalizar-se dias antes, a transição não ocorreria. O problema institucional estava implantado. Por isso, no silêncio da sua dor, com as mãos frias que tantas vezes apertei, havia o sofrimento. Ele caminhou até o fim. E até o fim foi fiel ao povo brasileiro - afirmou José Sarney.

Democracia

Na avaliação do presidente do Congresso, o legado deixado por Tancredo Neves frutificou: o Brasil chegou ao final do século passado como uma das maiores democracias de massa do mundo. O gargalo institucional foi ultrapassado a partir das atitudes, dos gestos e do sacrifício de Tancredo. Sob o comando de Sarney, partidos políticos ideológicos foram legalizados, as centrais sindicais foram legitimadas e as leis autoritárias foram revogadas. Uma Constituinte foi convocada e ela avançou no campo dos direitos sociais.
- A partir de 1985, nossa sociedade encontrou um dinamismo efervescente, profundo, refletido pela liberdade que tomou formas de expansão e exercício. Foi tão rápido que já em 1989 tivemos Luís Inácio da Silva, um operário, metalúrgico, emigrante das secas, candidato a presidente que quase foi eleito. Sua eleição em 2002 completa o ciclo de todas as classes sociais chegarem ao poder. Mostra a ruptura no processo de domínio das elites e a mobilidade social - lembrou Sarney.

Roberto Homem / Agência Senado
Programa especial da Rádio Senado sobre "100 anos de Tancredo", nesta sexta-feira, conta com participação de Sarney

"O Homem da cidade onde os sinos falam – os cem anos de Tancredo Neves", uma produção especial da Rádio Senado, contará com o depoimento do presidente do Senado, José Sarney. O programa vai ao ar nesta sexta (5/03), às 18h, com reprise no sábado, às dez da manhã, e no domingo às cinco da tarde, na Rádio Senado. Em entrevista ao programa, Sarney fala do seu relacionamento com Tancredo e sua participação na Nova República.No programa, você irá acompanhar a trajetória de Tancredo, das ruas de São João del-Rei, à presidência do Brasil. Na pequena cidade histórica mineira, ele construiu suas idéias que o tornaram uma das mais influentes e atuantes figuras políticas do Brasil, no século XX. Foi deputado estadual, federal, ministro da Justiça de Getúlio Vargas, primeiro-ministro do Brasil, senador, e eleito presidente do Brasil pelo Colégio Eleitoral, no último suspiro do regime militar. Apesar de não ter assumido o cargo, "foi um grande presidente", na opinião de José Sarney, porque foi seu legado de conciliação e de união que permitiu o prosseguimento da transição democrática, avalia.A reportagem é uma produção de Larissa Bortoni, Cezar Motta e Rodrigo Resende. Sintonize a Rádio Senado em Brasília (91,7 FM), em Natal (106,9 FM) ou em Cuiabá, (102,5 FM). Você pode ouvir a rádio também pela Internet, acessando www.senado.gov.br/radio, ou em ondas curtas na faixa de 49 metros, freqüência de 5.990 khz.

Veja também:


Conheça a trajetória do político mineiro


SAIBA MAIS SOBRE O PROCESSO DE TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA E A NOVA REPÚBLICA

"Vinte Anos de Democracia"



'


Leia o livro de Sarney na Internet. Clique na imagem

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Acompanhe

Clique para ampliar