Recuerdos de Cucaracha
Salvaram-se em Trinidad e Tobago apenas os Estados Unidos e o Brasil. Ficou evidente a chegada do nosso país àquilo que no passado fora a profecia de muitos pensadores, entre os quais Joaquim Nabuco, primeiro embaixador do Brasil em Washington: nossa condição de potência continental, desempenhando a mesma posição no continente sul que os EUA na América do Norte. Procuramos salvar a face de uma Latino-América fossilizada, com uma retórica fora da realidade e do tempo. O presidente Lula, mais do que tentando acalmar dinossauros, salvava a imagem do continente. Na realidade, um Obama moderno, mostrando não só a mudança nos EUA mas o que ele representa para o mundo no avanço das conquistas humanas, na superação de raças, ideologias e credos, como um presidente negro. Com sua pele, mostrou não só que os EUA mudaram como o mundo mudou. Ele vinha dizer aquilo que na Europa já afirmara: o fim do "big stick", a política da força e da prepotência. Obama trouxe uma mensagem nova, um convite à solidariedade, a uma visão conjunta de trabalho e de cooperação. A resposta foi pífia, não faltando mesmo o factoide criado por Chávez no oferecimento de um livro de 1971, um velho panfleto antiamericano, uma mostra de um dedo fossilizado de um tempo do século passado, da Guerra Fria, graças a Deus, apenas memória de um mundo bipolar, que morreu. A crise mundial, a estagnação da América Latina, mergulhada num atraso refletido na concentração de renda e baixas condições sociais, de educação, saúde e segurança, a chaga de um continente esclerosado, veio da situação deprimente de não se ter condições nem de assinar o documento final, porque não se tratava do embargo de Cuba. Falo com autoridade, porque há 20 anos, em Acapulco, na primeira reunião de chefes de governo para a crise da América Central, o chamado Grupo dos Oito, formado por nós em plena radicalização dos Estados Unidos, tive a coragem de propor a reintegração de Cuba ao sistema continental. Mas, hoje, esse problema está já em andamento com a proposta de Obama e o aceite de Raúl Castro de os dois países dialogarem diretamente, sem precisar de intermediários. Tornar isso um cavalo de batalha impeditivo de discutir os problemas de nossa área e aproveitar os novos ventos que sopram de Washington é demagogia e atraso, prisioneiros das hipotecas da Guerra Fria. Lula elevou o patamar internacional do Brasil. Nossa posição em Trinidad e Tobago mostrou um Brasil maduro, moderno e no nível de dialogar com os Estados Unidos no mesmo patamar de um Obama transformador. O resto foi uma vergonhosa verborragia à moda dos tempos de cucaracha.
Salvaram-se em Trinidad e Tobago apenas os Estados Unidos e o Brasil. Ficou evidente a chegada do nosso país àquilo que no passado fora a profecia de muitos pensadores, entre os quais Joaquim Nabuco, primeiro embaixador do Brasil em Washington: nossa condição de potência continental, desempenhando a mesma posição no continente sul que os EUA na América do Norte. Procuramos salvar a face de uma Latino-América fossilizada, com uma retórica fora da realidade e do tempo. O presidente Lula, mais do que tentando acalmar dinossauros, salvava a imagem do continente. Na realidade, um Obama moderno, mostrando não só a mudança nos EUA mas o que ele representa para o mundo no avanço das conquistas humanas, na superação de raças, ideologias e credos, como um presidente negro. Com sua pele, mostrou não só que os EUA mudaram como o mundo mudou. Ele vinha dizer aquilo que na Europa já afirmara: o fim do "big stick", a política da força e da prepotência. Obama trouxe uma mensagem nova, um convite à solidariedade, a uma visão conjunta de trabalho e de cooperação. A resposta foi pífia, não faltando mesmo o factoide criado por Chávez no oferecimento de um livro de 1971, um velho panfleto antiamericano, uma mostra de um dedo fossilizado de um tempo do século passado, da Guerra Fria, graças a Deus, apenas memória de um mundo bipolar, que morreu. A crise mundial, a estagnação da América Latina, mergulhada num atraso refletido na concentração de renda e baixas condições sociais, de educação, saúde e segurança, a chaga de um continente esclerosado, veio da situação deprimente de não se ter condições nem de assinar o documento final, porque não se tratava do embargo de Cuba. Falo com autoridade, porque há 20 anos, em Acapulco, na primeira reunião de chefes de governo para a crise da América Central, o chamado Grupo dos Oito, formado por nós em plena radicalização dos Estados Unidos, tive a coragem de propor a reintegração de Cuba ao sistema continental. Mas, hoje, esse problema está já em andamento com a proposta de Obama e o aceite de Raúl Castro de os dois países dialogarem diretamente, sem precisar de intermediários. Tornar isso um cavalo de batalha impeditivo de discutir os problemas de nossa área e aproveitar os novos ventos que sopram de Washington é demagogia e atraso, prisioneiros das hipotecas da Guerra Fria. Lula elevou o patamar internacional do Brasil. Nossa posição em Trinidad e Tobago mostrou um Brasil maduro, moderno e no nível de dialogar com os Estados Unidos no mesmo patamar de um Obama transformador. O resto foi uma vergonhosa verborragia à moda dos tempos de cucaracha.
José Sarney é ex-presidente da República, senador do Amapá e acadêmico da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa
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