terça-feira, 30 de setembro de 2008

Dia de comemorações na ABL

Lula assina Acordo Ortográfico e recebe de Sarney medalha alusiva ao centenário da morte de Machado de Assis

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem o decreto que normatiza a adesão do Brasil ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que entrará em vigor em janeiro, e prometeu que até 2009 cada cidade do País terá pelo menos uma biblioteca pública. O decreto, assinado na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, estabelece o cronograma do acordo ortográfico que prevê mudanças na escrita de palavras, além de decretar o fim do trema, suprimir consoantes mudas e vários acentos, simplificar o emprego do hífen e incluir no alfabeto as letras w, k e y.
As novas regras começarão a valer a partir de janeiro, mas as antigas permanecerão em vigor, como uso facultativo, até dezembro de 2012. Até lá, as duas regras valerão em concursos públicos, vestibulares, provas escolares e demais exames. Já os livros didáticos terão até 2010 para se enquadrar.
Para Lula, o acordo ortográfico poderá ampliar a cooperação comercial e social com os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em especial os da África e o Timor-Leste, onde educadores brasileiros ajudam a desenvolver o sistema educacional local. Ele também afirmou que as mudanças ajudarão os 8 milhões de lusófonos que vivem fora de seus países e querem ensinar o português a seus filhos.
Em pleno século 21, Lula admitiu que 630 municípios brasileiros não têm biblioteca pública. Em 2003, afirmou, o número era ainda maior: 1.170. Segundo ele, até o final do ano, mais 300 cidades terão a sua. "Nossa meta é que, até 2009, todos os 5.500 municípios brasileiros tenham ao menos uma biblioteca." Ele também afirmou que as salas de leitura em áreas consideradas de risco social receberão computadores, agentes de leitura e melhorias no acervo e mobiliário, como parte do Plano Nacional do Livro e da Leitura.

Machado de Assis



Durante a sessão solene, Lula recebeu das mãos do acadêmico e senador José Sarney (PMDB-AP) uma medalha alusiva ao centenário de morte do escritor, de quem se disse um admirador. "Não me cabe, naturalmente, discorrer sobre os méritos literários do fundador desta Casa. Sou apenas um dos inúmeros brasileiros que não se cansam de admirar o genial bruxo do Cosme Velho", disse. Depois da cerimônia, Sarney comentou que estava duplamente contente, pois, como acadêmico, sentia-se honrado em presentear o Presidente da República com uma medalha em homenagem aos cem anos do patrono da Academia e, como ex-presidente, sentia-se realizado por ter participado dos esforços que redundaram no Acordo Ortográfico. “A unidade lingüística do Brasil é um ativo nacional que, no plano externo, incide na prioridade concedida tradicionalmente às nações africanas de expressão portuguesa. No meu governo, com os esforços do Ministro da Cultura, José Aparecido, criamos o Instituto Internacional da Língua Portuguesa e demos todo a apoio para que o acordo ortográfico viesse a ser uma realidade. Fico muito contente que, justamente no Centenário de Machado de Assis, este passo importante para a integração da Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa seja dado", comentou José Sarney, membro da Academia Brasileira de Letras.
O Presidente da ABL, Cícero Sandroni, afirmou que ,"com esses atos, Machado de Assis será duplamente exaltado: de um lado, a Academia lhe rende a mais expressiva homenagem neste ano em que celebramos o centenário de sua morte com dezenas de realizações, entre as quais exposição sobre sua vida e obra já visitada por milhares de pessoas, na sua maioria estudantes. E de outro, a assinatura pelo Presidente Lula dos decretos que promulgam o Acordo Ortográfico dos sete países lusófonos, ato que concretiza uma aspiração de Machado, no discurso de encerramento do ano acadêmico de 1897: "A Academia buscará ser a guardiã de nosso idioma, fundado em suas legítimas fontes - o povo e os escritores, todos os falantes de língua portuguesa".
A cerimônia contou com a presença dos ministros da Cultura, Juca Ferreira, da Educação, Fernando Haddad, do governador do Rio de Janeiro (Sérgio Cabral) e dos Embaixadores e Cônsules de Portugal, Angola e Moçambique. O Acadêmico Eduardo Portella foi o orador oficial da solenidade. A sessão solene teve transmissão ao vivo pelo portal da ABL.


Veja a programação completa das celebrações da ABL.



Veja as mudanças ortográficas na matéria do "Jornal da Globo":

Preste atenção: o que há de errado na frase:
"Os contrarregras leem para uma plateia tranquila".


“Nós temos a ausência de circunflexo em: leem”, diz um senhor.
“Falta acento no: platéia”, fala outro homem.
É errado por enquanto, mas depois da reforma ortográfica, essa frase que hoje tem quatro erros, estará 100% correta.

O hífen sai de palavras compostas em que o segundo vocábulo comece com vogal, “R” ou “S”. Exemplo: auto-estrada; semi-árido; contra-regra; anti-social
Como fica: autoestrada; semiárido, contrarregra; antissocial

Cai o acento circunflexo em alguns substantivos e verbos com presença de hiatos.
Exemplo: vôo; enjôo; lêem; vêem
Como fica: voo; enjoo; leem; veem

O acento agudo será abolido em alguns ditongos, em palavras paroxítonas.
Exemplo: platéia; idéia; heróico; jibóia
Como fica: platéia; idéia; heróico; jiboia

O trema só será usado em sobrenomes estrangeiros.
Exemplo: tranqüilo; lingüiça; freqüente
Como fica: tranqüilo; lingüiça; frequente

O acento diferencial deixa de existir em algumas palavras, e só será mantido em pôde e pôr.
Exemplo: Pára; pêra; pólo; pêlo
Como fica: para; pera; polo; pelo
Mantido em: pôde e pôr

E as três letras que eram consideradas estrangeiras serão incorporadas ao nosso alfabeto.
Como fica: alfabeto 26 letras, incluindo k, w e y.

Nas últimas três tentativas, com resistências dos dois lados, nem sempre os países levaram as mudanças ao pé da letra. Em Portugal, intelectuais, professores e editores encaminharam ao presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, um manifesto assinado por mais de 45 mil pessoas, contra o acordo. O protesto chegou à internet e hoje conta com quase cem mil assinaturas. “É provavelmente uma espécie de apego a forma gráfica da palavra, uma espécie de reconhecimento de uma identidade que eles estariam perdendo” avalia José Carlos de Azeredo, professor de Letras, UERJ.
Aqui no Brasil, as opiniões se dividem. “Eu pessoalmente sou contra. Acho completamente inútil e improdutivo”, declara Carlos Heitor Cony, membro da Academia Brasileira de Letras. “É um acordo que se destina a simplificar e unificar a língua com o desejo de que ela seja realmente uma língua comum a todos os países lusófonos”, fala José Sarney, também membro da Academia Brasileira de Letras.


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