sábado, 27 de junho de 2009

Eleições 2010: Campanha serrista contra o Senado

Ditadura da hipocrisia
Por Eduardo Guimarães
O Congresso Nacional está paralisado há meses por “crises” que só ganharam a dimensão que ganharam porque, de forma inédita na história deste país, a mídia resolveu começar a bater todo dia em práticas congressuais que acontecem há décadas e que nunca meio de comunicação nenhum se interessou em investigar. A prática que gerou recentemente o “escândalo” das passagens aéreas e que paralisou a Câmara dos Deputados atravessou 40 anos sem nunca ter incomodado os meios de comunicação. Os tais “atos secretos” do Senado acontecem há pelo menos 15 anos e praticamente todos os senadores têm alguma relação com eles. Alguns dos envolvidos, como os pefelistas Heráclito Fortes, Demóstenes Torres e Agripino Maia, aparecem nas tevês dando lições de moral em José Sarney, vejam só. Nunca antes na história deste país ousaram cobrar do Congresso qualquer das práticas que temos visto. Antonio Carlos Magalhães, que ninguém diria melhor do que Sarney, enquanto foi ministro dele e distribuía favores à Globo e companhia, recebia da mídia tratamento de “estadista”. É só resgatar as edições antigas de jornal para constatar. E, se você denuncia essa hipocrisia toda, está defendendo Sarney, o indefensável. Para mim, porém, não sei se Sarney é o capeta como estão pintando ou se é apenas mais um oligarca de um tipo que pode ser encontrado à farta no Congresso.
Vejam só o ACM “grampinho” Neto. Herdeiro de uma oligarquia nordestina truculenta, representante de uma casta baiana acusada dos piores crimes que se possa conceber, e ninguém o trata como maldito. Aliás, nem Sarney jamais foi atacado desta forma. A mídia “descobriu” Sarney porque ele é presidente do Senado e porque é fácil usar tudo que se falou sempre pelos cantos contra ele para tentar diminuir ainda mais a já escassa maioria governista no Senado derrubando-o. Agora, sair atacando Sarney enquanto se tolera a hipocrisia retórica de um Agripino Maia ou de um “grampinho” ou até de um Demóstenes Torres, envolvido neste escândalo em particular e que fica dando shows de indignação, é de matar. Isto aqui não é defesa de Sarney coisíssima nenhuma. Querem depor Sarney? Provem as acusações contra ele e deponham-no. Ele é oligarca? Claro que é, como tantos outros que o atacam. Ora, se querem continuar atacando Sarney, ataquem. Mas tenham vergonha na cara e não se esqueçam dos outros. Aliás, aqui vai um novo bordão quentinho pra vocês: dar ao roto o direito de falar do remendado é no mínimo ser tão “rasgado” quanto qualquer um dos dois.
Por que o Sarney?

Muitos devem estar se perguntando aonde a imprensa quer chegar com os ataques ao Congresso que têm sido vistos nos últimos dois meses, digamos. Primeiro, foi a Câmara dos Deputados, e agora, o Senado. Para entender o que acontece – e é complicado entender, porque o ataque em curso não é tão escancaradamente partidarizado quanto costuma ser contra o PT –, teremos que lembrar que José Sarney é apenas mais um presidente do Senado e que ele, particularmente, além de ser um eminente desafeto de José Serra – o que, por si só, já seria motivo mais do que suficiente para ser atacado pela imprensa –, é da base do governo e é fiel a Lula. O que vocês estão assistindo agora em relação ao Senado, apesar de ter boa dose de ligação com o que a imprensa fez há pouco na Câmara com aquela história das passagens aéreas, na verdade distingue-se daquele ataque, em alguma medida, porque a Presidência da Câmara Alta é alvo constante da oposição comandada por Serra e por FHC, os quais detêm o joystick que controla a mídia. Estou me alongando para destacar que Sarney é Renan Calheiros, apenas. Ou melhor: ele detém a Presidência de uma Casa na qual a oposição não é tão minoritária e, assim, tem chance de não ser “tratorada” pela situação, de maneira que, com ajuda da mídia, essa oposição senatorial pode dificultar mais ainda a vida do governo. Ao enfraquecer o presidente do Senado, os meios de comunicação reduzem ainda mais o poder do governo naquela Casa, equilibrando ali – ou desequilibrando – o jogo político. O que há, também, é a intenção de criar entre a população uma disposição mudancista. A mídia dá ouvidos a Serra quando ele propõe que se crie essa disposição no eleitorado de forma que tal sentimento acabe induzindo-o a promover uma mudança radical no país, inclusive na Presidência da República, votando no opositor de Lula e da sucessora por ele indicada. A estratégia de desmoralizar o presidente do Congresso e a própria Casa, só que seletivamente, parece promissora à mídia também porque o Legislativo brasileiro, para ir no popular mesmo que hoje estou meio sem paciência, é realmente uma verdadeira putaria, desde sempre, ainda que seja uma putaria necessária que não pode ser fechada, porque, sem ela, o poder que está lá dentro dividido por representantes do povo acaba ficando nas mãos de um grupelho só e de seus jornais, revistas, tevês, rádios e o diabo que os carregue. Mas não tem problema não, pessoal. A mídia também acha que dará certo culpar Lula pelos problemas políticos no Irã, pela queda do avião da Air France, pela gripe suína, pelo confisco da poupança, pelos flanelinhas, pelo Speedy, pela cerveja quente e pelo Galvão Bueno. A melhor coisa que podemos fazer é ir sacaneando esses sacanas sempre que eles derem mole como fez a analista porcina do PIG nesta penúltima terça-feira de junho. Garanto a vocês que, quando os desorientados pelo fla-flu tucano-petista vêem aquilo que mostrei aqui ontem no post anterior a este, começam a entender porque é, diabos, que gasto tanto esforço com esse monstrengo midiático.

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