sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Presidência do Senado Federal

O que está em jogo é a tese do 3º mandato
Por Said Barbosa Dib

Por causa da teimosia de Tião Viana em rachar a base governista, a cúpula do PSDB está conseguindo vender caro o seu peixe. Esqueceram o combate contra a tese do 3º mandato e estão comendo pelas beiradas. Sérgio Guerra, em entrevista à Rádio CBN nesta sexta-feira (30) pela manhã, confirmou a decisão da bancada de apoiar Tião Viana. A maioria da bancada decidiu apoiar Sarney, mas os caciques acham que as reivindicações do partido por cargos na estrutura do Senado podem render mais se o PMDB se sentir ameaçado. Até segunda-feira, muita água rolará. Faz parte do jogo nesta reta final. Mas, a verdade é que, dando corda aos tucanos, o senador do Acre e o PT só estão criando condições para que o presidente tenha que enfrentar dificuldades desnecessárias nos últimos meses de seu segundo mandato. Há o perigo de se empurrar o PMDB, o partido mais fortalecido nas eleições do ano passado, para fora da coligação que apóia Lula, o que seria péssimo para a candidatura de Dilma Roussef. A vitória de Temer e uma improvável derrota de Sarney representariam o fortalecimento da candidatura Serra em 2010. Todos sabem que dificilmente Sarney perderá, não só pela sua competência política e seu perfil de conciliador, mas também porque se tornou peça-chave para consolidar a candidatura Dilma Roussef. É esta a leitura de Lula. Sarney é figura de destaque no PMDB e pertence ao setor do partido que melhor vem contribuindo com o presidente da República. E Lula já teve provas suficientes de que, diferente de Michel Temer, que tem uma quedinha por Serra, o ex-presidente é fiança de que o PMDB continue na base. Uma ruptura implicaria a perda de pastas essenciais. São simplesmente seis ministérios. O que não é pouco. Por isso, Lula e sua candidata já estão irritados com Tião Viana, que, apenas preocupado com o próprio umbigo no Acre, não compreendeu ainda no que está se metendo. Não entendeu que o PMDB é elemento decisivo e tem que ser respeitado, pois elegeu 1.200 prefeitos, possui 4.671 diretórios municipais, no total de 5.569 cidades; tem 20 senadores, 95 deputados federais, 172 estaduais, 8.497 vereadores. Possui uma estrutura partidária nacional invejável, muito bem organizada e ampla. E é, por isso mesmo, fator de equilíbrio institucional. Uma improvável derrota de Sarney para Tião Viana atingiria toda a rede de articulação em torno do presidente Lula e de seu projeto para, depois de um mandato de Dilma, retornar a Brasília em 2014 ou 2015, se houver o fim da reeleição. Ou seja, uma pretensão com base nas regras eleitorais atuais, sem necessidade de reformar mais uma vez a Constituição. Os tucanos dizem que associam seu apoio à garantia de veto à tese do terceiro mandato. Sabem que Sarney na Presidência do Senado, diferente de Tião, fará justamente com que Lula não precise trilhar caminhos tortuosos para a democracia. Caso contrário, Lula será forçado a um “plano B”. Tentará fatalmente o terceiro mandato consecutivo. É este o perigo. E é o que os petistas querem: que Lula siga os caminhos de Hugo Chaves. Por isso, não por acaso, Aloizio Mercadante divulgou nesta quinta-feira (29) nota comentando a especulação segundo a qual Sarney teria se comprometido a "dificultar" a aprovação da adesão da Venezuela ao Mercosul. Mercadante não quer que o critério democrático seja um imperativo para os países do bloco, como sempre advogou Sarney, pois, junto com Tião, sabe que isto atrapalharia, no futuro, o projeto totalitário de setores do PT. É isso que está em jogo. Que os 13 tucanos do Senado analisem se realmente estão preocupados com o “3º mandato” ou se estão apenas interessados em barganhar cargos aqui e acolá. Tenho certeza que o líder Arthur Virgílio tem consciência disso e saberá iluminar os colegas.

Said Barbosa Dib é historiador e analista político em Brasília

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