Além de Nostradamus
Nada ameaça mais o futuro da humanidade do que as armas nucleares. Tenho sido sempre um militante desta causa. Não somente com palavras, mas com ações e decisões. Eu e Alfonsín retiramos a América Latina dessa corrida alucinada quando encerramos a questão nuclear Brasil – Argentina. Foi de minha iniciativa, enquanto Presidente, a Resolução da ONU que transformou o Atlântico Sul em Zona de Paz, livre do tráfego de armas nucleares.
O Irã, ao recusar sistematicamente o controle da Agência Internacional de Energia Atômica, confessa que seus fins pacíficos não são tão pacíficos. Ele está localizado numa área de extrema sensibilidade, e suas posições chegam ao fanatismo. Sua busca de enriquecimento de urânio capaz de produzir artefatos nucleares está acoplada a um programa de mísseis de longo e médio alcance, o que torna bastante suspeito o radicalismo de sua resistência às inspeções.
A conduta da comunidade internacional sobre o controle de armas atômicas tem que ser dura. Hoje já temos um arsenal capaz de destruir a Terra e todo ser vivo nela existente. Não precisamos esperar o choque com um meteoro gigante. A loucura do próprio homem pode — e será inevitável se não tratarmos este assunto como o maior de todos os problemas — nos levar ao juízo final.
É de louvar o messianismo de Obama ao colocar como prioridade das prioridades de sua presidência evitar que o mundo caminhe para o descontrole nuclear. Já fomos longe demais. O desmantelamento da União Soviética e o posterior período de anarquia que viveram a Rússia e os demais países que a compunham levou a escapar para o contrabando internacional urânio enriquecido capaz de construir bombas. Só os países que possuem armas nucleares se calcula que detêm 1.600 toneladas de urânio enriquecido, além de 500 toneladas de plutônio, outro produto capaz de servir à proliferação de artefatos nucleares.
A Agência Internacional de Energia Atômica, segundo jornais europeus, já flagrou quinze casos de furto de plutônio e urânio enriquecido. Isto significa que os controles, com todos os rigores que tem, foram incapazes de evitar esses desvios. A possibilidade de esses materiais caírem em mãos de terroristas é cada vez maior.
Houve um tempo, quando estes números eram menores e o fim do mundo não estava na cogitação da humanidade, que admitimos não assinar o TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear). Hoje não cabe na cabeça de ninguém essa hipótese. Dentro desse quadro Irã e Coréia do Norte são perigos iminentes. Essas armas em mãos de fanáticos são a tragédia anunciada, além de tudo que viu Nostradamus.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa
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