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Sarney: 80 anos de idade, 55 dedicados à vida pública
"O importante não é o que fazem do homem, mas o que ele faz com que fizeram dele".
Jean-Paul Sartre
Não se sabe se Sartre, filósofo, escritor, ateu, conheceu José Sarney, católico fervoroso. Mas bem poderia ter se inspirado no autor de "Marimbondos de Fogo" para criar o que definia em sua filosofia existencialista como os "homens autênticos", aqueles que sabem assumir posições, que conseguem dar sentido às suas existências, principalmente quando as adversidades da vida ("o que fazem dele") assim o exigem. Sartre diferenciava esta espécie de homens daqueles que não tomam posição, não assumem responsabilidades, os "inautênticos". Estes, segundo o pensador francês, diante dos vários caminhos que a vida proporciona, ao terem que enfrentar a "angústia inexorável da escolha", experimentam "o peso da liberdade", se sentem no vazio e encolhem, aninhando-se no que chamava de "má fé". Sarney se mostrou um paradigma do primeiro tipo, os homens autênticos de "boa fé", quando, diante da trágica morte de Tancredo, foi alçado à Presidência num contexto extremamente adverso e delicado de transição política e profunda crise econômica. Mas, não se encolheu. Tornou posição, assumiu responsabilidades, cumprindo todos os compromissos da Aliança Democrática. E a missão não foi nada fácil. Além dos profundos problemas políticos e econômicos que herdara a imprensa amordaçada, por anos, e se aproveitando da natural frustração das massas, em decorrência da morte do Presidente eleito, durante toda a "Nova República" não deu tréguas. Mas, lastreado pela sua história de vida, conseguiu cumprir à risca - e foi até além - tudo que Tancredo dizia que iria fazer. A convocação da Constituinte e a legalização dos partidos clandestinos, por exemplo, não estavam nas cogitações de Tancredo. E foi muito além. Conseguiu fazer a reforma do Estado, com a extinção da conta-movimento do Banco do Brasil, a unificação do orçamento da União, a criação do SIAFI, da Secretaria do Tesouro. Ao final, seu governo teve um resultado que, visto com os olhos de hoje, é surpreendente: crescimento e pleno emprego. O PIB per capita em dólares dobrou, chegando a US$ 2.923 (em 2004 estava em US$ 2.789), o desemprego foi o menor de nossa História (2,36%). O país era a 7ª potência industrial do mundo. Havia 67 bilhões de dólares de saldo comercial (contra um déficit de 8 bilhões de dólares no período de 1995/2002). O PIB passou de 189 para 415 bilhões de dólares, e a dívida externa caiu de 54% para 28% do PIB. A produção de petróleo passou de 2,7 para 8 bilhões de barris. A safra agrícola passou de 50 para 60 milhões de toneladas de grãos. No setor elétrico, a produção aumentou em 24,1%, o número de consumidores em 22,3%, foram investidos 29 bilhões de dólares. O déficit primário de 2,58% do PIB foi transformado em superávit de 0,8%. Em 1990, Sarney entregou ao seu sucessor - eleito em eleição direta e completamente livre - um país renovado. Transformado nos planos econômico, social e político. Cumpriu-se, assim, o compromisso de Tancredo: o Brasil se tornou uma grande democracia e a questão social foi colocada na agenda política.
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