sábado, 18 de outubro de 2008

Dia do Médico


Reflexões sobre a Medicina
Por Papaléo Paes*


A medicina é uma função que tem grande ligação com o sagrado, já que permite um controle razoável sobre as possibilidades de existência maior ou menor para os seres humanos. Deve ser por essa razão que se escolheu, para comemorar o Dia do Médico, o dia 18 de outubro, que a Igreja dedica a São Lucas, um dos quatro evangelistas, que exerceu a medicina com grande sabedoria. Portanto, o Dia do Médico é simplesmente o dia do patrono dessa profissão tão nobre, aliás, mais uma missão do que uma profissão.
No Brasil, o ensino formal da medicina começou com a vinda da Família Real; portanto, há exatos dois séculos. Por decreto do Príncipe-Regente D. João em 18 de fevereiro de 1808, pouco tempo depois da chegada da Família Real, foi criada a Escola de Cirurgia da Bahia, na cidade de Salvador, hoje Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. E, no dia 5 de novembro de 1808, foi a vez do Rio de Janeiro. Nessa data, o Príncipe Regente, por Carta Régia, criou a Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia, instalada no Morro do Castelo. Entre 1832 e 1919, passou a ser chamada Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, incorporando-se, em 1920, à Universidade do Rio de Janeiro. Em 1937, com a criação da Universidade do Brasil, passou a chamar-se Faculdade Nacional de Medicina e, a partir de 1965, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O desenvolvimento da profissão de médico e a amplitude dos conhecimentos hoje existentes sobre o corpo humano e suas condições de saúde levaram a medicina a ramificar-se em numerosas áreas de especialização, como clínica médica, anestesiologia, endocrinologia, cirurgia geral, pediatria, entre outras.
Um número significativo de brasileiros já se juntou ao panteão das celebridades no ramo da medicina, obtendo o respeito no mundo inteiro em razão de seus trabalhos nessa área.
Oswaldo Cruz, um dos mais destacados, especializou-se em bacteriologia pelo Instituto Pasteur de Paris. Retornando ao Brasil, engajou-se no combate à peste bubônica, que se alastrava pelo Porto de Santos, no Estado de São Paulo. Também foi marcante sua campanha pela erradicação da febre amarela, com obrigatoriedade de vacinação, no início do século XX, quando ocupava o cargo de Diretor-Geral de Saúde Pública, que hoje teria a mesma importância de Ministro da Saúde.
Vital Brazil, outra das grandes personalidades brasileiras da área da saúde, era do interior de Minas Gerais, da cidade de Campanha, mas formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Envolveu-se de corpo e alma no combate às epidemias de varíola, febre amarela e cólera, no interior do Estado de São Paulo. Descobriu os soros contra picada das cobras jararaca e cascavel. Foi diretor do Instituto Butantã e, depois, fundou o Instituto Vital Brazil, criado para a elaboração de soros e vacinas.
Carlos Chagas é outro que se destacou, com a descoberta do mal que ficou associado ao seu nome. Estudou o mal de Chagas em todos os seus aspectos, incluindo a cura. Mesmo assim, a doença ainda não foi erradicada, e estima-se que há cerca de cinco milhões de pessoas infectadas pelo trypanossoma cruzi, um micróbio expelido com as fezes do barbeiro (triatoma infestans).
Não podemos nos esquecer ainda de Gaspar Viana. Nascido em Belém do Pará, tornou-se famoso como bacteriologista e descobriu a cura da leishmaniose, uma doença provocada por um protozoário microscópico que se hospeda no transmissor, o mosquito-palha ou “cangalhinha”, que é menor do que um pernilongo comum. A doença se transmite com a picada desse minúsculo inseto.
O Doutor Euryclides de Jesus Zerbini também obteve fama internacional com as cirurgias cardíacas e a grande participação no desenvolvimento dos transplantes de coração. Em 1975, realizou-se um grande sonho seu: a construção, em São Paulo, do Instituto do Coração (Incor), referência para a especialização cardíaca no mundo inteiro. Logo depois, foi criada a Fundação Zerbini para o Desenvolvimento da Bioengenharia, visando a dar suporte técnico ao Incor.
Creio ser desnecessário reconhecer a importância do profissional que cuida da nossa saúde. E ele merece a nossa homenagem e a nossa gratidão na oportunidade desta data que lhe é dedicada. Mas que essa homenagem não se dirija apenas aos famosos. Ela tem de chegar também àqueles que passam suas noites nos prontos-socorros, dando o melhor de si para salvar os acidentados e as vítimas de violência, bem como tratar dos males agudos que acometem as pessoas sem escolher horário. Ela tem de chegar também a todos aqueles que, dia e noite, ficam à nossa disposição nos ambulatórios e nas clínicas, para que tenhamos uma melhor qualidade de vida, com mais saúde.
A todos os médicos brasileiros e, em especial, aos meus colegas do Estado do Amapá, minhas saudações pelo Dia do Médico.


* Papaleo Páes é médico e senador da República pelo PSDB

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