A difícil volta
Foi lorde Callaghan, então primeiro-ministro britânico, quem, questionado por jornalistas sobre a crise provocada pelas greves e agitações sociais que varriam o país em 1979, primeiro respondeu com outra pergunta: "Crise? Que crise?". É que, quando elas aparecem, vêm de mansinho e só são visíveis quando se instalam. A Grande Depressão, marcada pela crise da Bolsa de Nova York em 1929, só alcançou seu ponto mais dramático em 1933. O Brasil, naquele tempo, tinha uma vulnerabilidade total, pois toda nossa economia girava em torno do café, responsável por 70% de nossas exportações. O seu impacto sobre o país abriu caminho para que a Revolução de 30, que estava germinando, eclodisse de uma vez logo em seguida. A crise de 1929 foi, por assim dizer, artesanal. A de agora é sofisticada, porque inédita num mundo globalizado. Mas houve uma intermediária, a chamada bolha Ponto-Com, iniciada em 1995. Depois de atingir a estratosfera, o valor das ações caiu de tal maneira que, durante os longos cinco anos de escada abaixo, as perdas no mercado americano chegaram a US$ 8,5 trilhões. Logo veio o período de recessão, que fez o desemprego passar de 3,8 para 6% e empurrou 1,3 milhão de americanos para baixo da linha da pobreza. A década de 90 foi a de maior prosperidade da história da humanidade, embora tenha alternado tempos bons e ruins. Basta lembrar as crises de Coréia, Malásia, Indonésia, Rússia, Argentina, Brasil, países que amargaram anos de recessão. Em 2000, o mundo começou com perspectivas otimistas e viveu um tempo de crescimento, emprego em alta, aumento do comércio internacional, com a economia agitada depois da tempestade. A crise que se instalou agora vive mais de perplexidades do que de diagnóstico. E, sem este, os remédios são dados sem certeza de que fazem efeito. Se lá fora a coisa vai assim, no Brasil, em meio a essas incertezas, temos um firme comando financeiro que vem gerenciando os problemas, procurando antecipar soluções e tomando as providências corretas em sintonia com seus parceiros internacionais. O ministro Mantega e o doutor Henrique Meirelles granjearam a confiança internacional e por isso estão nas mesas das decisões. O gesto do Fed, o banco central dos Estados Unidos, que abriu uma linha de crédito de US$ 30 bilhões ao Brasil -coisa que, no passado, só acontecia após meses de negociações e com a imposição de condições-, dá bem a dimensão da seriedade de nosso comportamento. Agora resta no ar a interrogação que é de todo o mundo: quanto tempo vai durar nossa agonia?
Foi lorde Callaghan, então primeiro-ministro britânico, quem, questionado por jornalistas sobre a crise provocada pelas greves e agitações sociais que varriam o país em 1979, primeiro respondeu com outra pergunta: "Crise? Que crise?". É que, quando elas aparecem, vêm de mansinho e só são visíveis quando se instalam. A Grande Depressão, marcada pela crise da Bolsa de Nova York em 1929, só alcançou seu ponto mais dramático em 1933. O Brasil, naquele tempo, tinha uma vulnerabilidade total, pois toda nossa economia girava em torno do café, responsável por 70% de nossas exportações. O seu impacto sobre o país abriu caminho para que a Revolução de 30, que estava germinando, eclodisse de uma vez logo em seguida. A crise de 1929 foi, por assim dizer, artesanal. A de agora é sofisticada, porque inédita num mundo globalizado. Mas houve uma intermediária, a chamada bolha Ponto-Com, iniciada em 1995. Depois de atingir a estratosfera, o valor das ações caiu de tal maneira que, durante os longos cinco anos de escada abaixo, as perdas no mercado americano chegaram a US$ 8,5 trilhões. Logo veio o período de recessão, que fez o desemprego passar de 3,8 para 6% e empurrou 1,3 milhão de americanos para baixo da linha da pobreza. A década de 90 foi a de maior prosperidade da história da humanidade, embora tenha alternado tempos bons e ruins. Basta lembrar as crises de Coréia, Malásia, Indonésia, Rússia, Argentina, Brasil, países que amargaram anos de recessão. Em 2000, o mundo começou com perspectivas otimistas e viveu um tempo de crescimento, emprego em alta, aumento do comércio internacional, com a economia agitada depois da tempestade. A crise que se instalou agora vive mais de perplexidades do que de diagnóstico. E, sem este, os remédios são dados sem certeza de que fazem efeito. Se lá fora a coisa vai assim, no Brasil, em meio a essas incertezas, temos um firme comando financeiro que vem gerenciando os problemas, procurando antecipar soluções e tomando as providências corretas em sintonia com seus parceiros internacionais. O ministro Mantega e o doutor Henrique Meirelles granjearam a confiança internacional e por isso estão nas mesas das decisões. O gesto do Fed, o banco central dos Estados Unidos, que abriu uma linha de crédito de US$ 30 bilhões ao Brasil -coisa que, no passado, só acontecia após meses de negociações e com a imposição de condições-, dá bem a dimensão da seriedade de nosso comportamento. Agora resta no ar a interrogação que é de todo o mundo: quanto tempo vai durar nossa agonia?
José Sarney é ex-presidente do Brasil, senador do Amapá e acadêmico da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Letras
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