Mudança radical ou caos total
O que vem acontecendo nos campos econômico, político e social? Mais do mesmo? Não exatamente. O que está em andamento na economia mundial e na brasileira também, que lhe está subordinada, envolve, sim, a repetição de novos e brutais engodos, mas isso não quer dizer que continue tudo igual. Do modo em que estão sendo encaminhadas as políticas econômicas, a situação das sociedades nacionais tende a piorar, a ponto de determinar rupturas, não necessariamente orientadas no sentido de reverter o processo da destruição social. Com efeito, as manipulações e fraudes financeiras adicionais, atualmente em marcha, terão efeitos ainda mais perversos que as precedentes, uma vez que as novas fazem deteriorar-se condições sociais já desestruturadas.
O que se pretende aqui salientar é o seguinte. O colapso financeiro continua a se aprofundar, e a oligarquia que o gerou, não foi apeada do poder real, aquele que impera sobre os supostos governantes, meros títeres dos concentradores financeiros.
Como estes últimos prosseguem no comando, mal velado, da política, da economia e de tudo mais, o que estão fazendo agora, decorrido mais de ano da entrada da economia mundial em profundo colapso, é tentar camuflá-lo. No processo, obtêm lucros adicionais, como está ocorrendo com as bolsas de valores, em recuperação armada, que não deverá durar muito, trazendo perdas substanciais aos embarcados mais recentes.
Enquanto isso se avoluma o escandaloso socorro que a oligarquia determina aos ditos governos prestar a bancos e seguradoras afundados pelas apostas irresponsáveis nos derivativos. Até o presente, só nos EUA, essa farra escandalosa já custou de 13 (treze) trilhões de dólares, em compras de títulos tóxicos, aportes de capital aos bancos, empréstimos e garantias. Para isso, bancos centrais e governos emitem moeda e títulos, pondo mais lenha na fogueira da próxima hiperinflação.
Por enquanto, como aconteceu com a Alemanha, durante a República de Weimar, antes de 1923, é a deflação que aparece, dada a depressão da economia, até que a hiperinflação entre em cena. Como tenho assinalado, embora sejam inimagináveis as quantias gastas no socorro aos apostadores, que se cevaram em ganhos irreais com derivativos e outros títulos fajutos, essas quantias não passam de pequena fração das apostas totais em títulos mal fundados. Ou seja, o equivalente a mais de US$ 20 trilhões atirados em cima do colapso por governos europeus e dos EUA é quase irrelevante diante de possivelmente mais de uma centena de trilhões de dólares, dado que a existência nominal de derivativos chegou a passar dos US$ 600 trilhões (muitos denominados também em euros) e que percentual não desprezível disso está condenado a ruir. Pior ainda, os concentradores financeiros continuam a iludir a grande maioria dos agentes econômicos, fazendo-os, como acima lembrado, embarcar em novas bolhas especulativas. Ou seja: cria-se intermitentemente a ilusão de que a “crise” está arrefecendo. Isso é feito por meio de emissões governamentais absurdamente inflacionárias, porque muito pouco delas serve para dinamizar a economia real, pois se destinam a cobrir rombos financeiros.
Por todas essas razões, não há saída para o colapso do sistema financeiro mundial, e a solução de interesse das sociedades é deixá-lo desmoronar, para que seja outro sistema instituído, claro que em bases distintas, i.e., livres da concentração oligárquica e dinástica que tem controlado o poder. O que não deve passar despercebido é que, não havendo essa substituição sistêmica, e com urgência, os danos à Humanidade se irão tornando insuportáveis e irreversíveis. Em suma, ou se modificam radicalmente as relações de poder, ou se caminha para assistir ao fim da expectativa, um dia formulada, de vir a existir civilização e condições para a sobrevivência da espécie humana como tal. Nesse caso estaria definitivamente confirmada a constatação do cientista alemão Max Planck ao ver as destruições das duas Grandes Guerras Mundiais do Século XX: “A tentativa da Natureza de criar um ser racional parece ter fracassado.”
Mais sobre a crise das moedas e o FMI
A inflação das tradicionais moedas de reserva, como o euro, a libra esterlina, o franco suíço e o dólar, está causando um caos incontrolável no assim chamado sistema financeiro internacional. A notória impossibilidade de o dólar manter-se como moeda de reserva está também tendo resposta perversa por parte da oligarquia financeira, que dirige as tratativas governamentais no G-7 e demais foros.
De qualquer forma, para muitos da minoria na qual os concentradores não implantam antolhos, já é evidente que o dólar está sendo gradualmente afastado da espúria função como moeda mundial de reserva. Assim, escreve W. Joseph Stroupe, (Boletim de inteligência Global Events Magazine), no portal Asia Times Online (7/05/2009):
“A menos que você tenha estado escondido numa caverna em algum lugar, sabe que os grandes financiadores do Tesouro dos EUA, como a China e parceiros do Leste da Ásia, azedaram o futuro do dólar além do curto a médio prazos. Eles perderam inteiramente a confiança na capacidade de os EUA colocarem realmente em ordem as suas casas monetária, financeira e econômica, antes que as repercussões da sua política míope se manifestem com força total. Estão preparando soluções que levarão mais dois ou três anos para ser plenamente implementadas, mas que afastarão o dólar para as franjas da política monetária e financeira internacional.”
Em artigo escrito em abril e publicado em A Nova Democracia, nº 52, de maio deste ano, referi-me a diversas maneiras perversas de os causadores do colapso o aproveitarem para aumentar seu próprio poder. Uma é fazer dos direitos especiais de saque emitidos pelo FMI a nova moeda mundial. Outra é impingir de novo o FMI para reger a economia de países afetados pela devastação globalizante. Acentuei também o aparente paradoxo de os dois países mais endividados do Mundo, os EUA e o Reino Unido, ficarem livres da destrutiva intervenção da notória instituição “internacional”.
Ora, quem deseje sobreviver se deve manter longe do FMI e rejeitar qualquer moeda mundial que seja. Esse é o caminho que o Brasil tem de fazer, desatrelando-se das reservas em títulos dos EUA e outros em dólares, nacionalizando sua economia e governando-a sob desconcentração. Os que crêem nosso País menos atingido pelo colapso mundial não perdem por esperar. Desde já estão aí, nos últimos seis meses, quedas substanciais na produção, nas exportações e no emprego.
Adriano Benayon do Amaral é diplomata de carreira, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado Federal, na Área de Economia, aprovado em 1º lugar em ambos concursos. Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de ”Globalização versus Desenvolvimento”
abenayon@brturbo.com.br
O que vem acontecendo nos campos econômico, político e social? Mais do mesmo? Não exatamente. O que está em andamento na economia mundial e na brasileira também, que lhe está subordinada, envolve, sim, a repetição de novos e brutais engodos, mas isso não quer dizer que continue tudo igual. Do modo em que estão sendo encaminhadas as políticas econômicas, a situação das sociedades nacionais tende a piorar, a ponto de determinar rupturas, não necessariamente orientadas no sentido de reverter o processo da destruição social. Com efeito, as manipulações e fraudes financeiras adicionais, atualmente em marcha, terão efeitos ainda mais perversos que as precedentes, uma vez que as novas fazem deteriorar-se condições sociais já desestruturadas.
O que se pretende aqui salientar é o seguinte. O colapso financeiro continua a se aprofundar, e a oligarquia que o gerou, não foi apeada do poder real, aquele que impera sobre os supostos governantes, meros títeres dos concentradores financeiros.
Como estes últimos prosseguem no comando, mal velado, da política, da economia e de tudo mais, o que estão fazendo agora, decorrido mais de ano da entrada da economia mundial em profundo colapso, é tentar camuflá-lo. No processo, obtêm lucros adicionais, como está ocorrendo com as bolsas de valores, em recuperação armada, que não deverá durar muito, trazendo perdas substanciais aos embarcados mais recentes.
Enquanto isso se avoluma o escandaloso socorro que a oligarquia determina aos ditos governos prestar a bancos e seguradoras afundados pelas apostas irresponsáveis nos derivativos. Até o presente, só nos EUA, essa farra escandalosa já custou de 13 (treze) trilhões de dólares, em compras de títulos tóxicos, aportes de capital aos bancos, empréstimos e garantias. Para isso, bancos centrais e governos emitem moeda e títulos, pondo mais lenha na fogueira da próxima hiperinflação.
Por enquanto, como aconteceu com a Alemanha, durante a República de Weimar, antes de 1923, é a deflação que aparece, dada a depressão da economia, até que a hiperinflação entre em cena. Como tenho assinalado, embora sejam inimagináveis as quantias gastas no socorro aos apostadores, que se cevaram em ganhos irreais com derivativos e outros títulos fajutos, essas quantias não passam de pequena fração das apostas totais em títulos mal fundados. Ou seja, o equivalente a mais de US$ 20 trilhões atirados em cima do colapso por governos europeus e dos EUA é quase irrelevante diante de possivelmente mais de uma centena de trilhões de dólares, dado que a existência nominal de derivativos chegou a passar dos US$ 600 trilhões (muitos denominados também em euros) e que percentual não desprezível disso está condenado a ruir. Pior ainda, os concentradores financeiros continuam a iludir a grande maioria dos agentes econômicos, fazendo-os, como acima lembrado, embarcar em novas bolhas especulativas. Ou seja: cria-se intermitentemente a ilusão de que a “crise” está arrefecendo. Isso é feito por meio de emissões governamentais absurdamente inflacionárias, porque muito pouco delas serve para dinamizar a economia real, pois se destinam a cobrir rombos financeiros.
Por todas essas razões, não há saída para o colapso do sistema financeiro mundial, e a solução de interesse das sociedades é deixá-lo desmoronar, para que seja outro sistema instituído, claro que em bases distintas, i.e., livres da concentração oligárquica e dinástica que tem controlado o poder. O que não deve passar despercebido é que, não havendo essa substituição sistêmica, e com urgência, os danos à Humanidade se irão tornando insuportáveis e irreversíveis. Em suma, ou se modificam radicalmente as relações de poder, ou se caminha para assistir ao fim da expectativa, um dia formulada, de vir a existir civilização e condições para a sobrevivência da espécie humana como tal. Nesse caso estaria definitivamente confirmada a constatação do cientista alemão Max Planck ao ver as destruições das duas Grandes Guerras Mundiais do Século XX: “A tentativa da Natureza de criar um ser racional parece ter fracassado.”
Mais sobre a crise das moedas e o FMI
A inflação das tradicionais moedas de reserva, como o euro, a libra esterlina, o franco suíço e o dólar, está causando um caos incontrolável no assim chamado sistema financeiro internacional. A notória impossibilidade de o dólar manter-se como moeda de reserva está também tendo resposta perversa por parte da oligarquia financeira, que dirige as tratativas governamentais no G-7 e demais foros.
De qualquer forma, para muitos da minoria na qual os concentradores não implantam antolhos, já é evidente que o dólar está sendo gradualmente afastado da espúria função como moeda mundial de reserva. Assim, escreve W. Joseph Stroupe, (Boletim de inteligência Global Events Magazine), no portal Asia Times Online (7/05/2009):
“A menos que você tenha estado escondido numa caverna em algum lugar, sabe que os grandes financiadores do Tesouro dos EUA, como a China e parceiros do Leste da Ásia, azedaram o futuro do dólar além do curto a médio prazos. Eles perderam inteiramente a confiança na capacidade de os EUA colocarem realmente em ordem as suas casas monetária, financeira e econômica, antes que as repercussões da sua política míope se manifestem com força total. Estão preparando soluções que levarão mais dois ou três anos para ser plenamente implementadas, mas que afastarão o dólar para as franjas da política monetária e financeira internacional.”
Em artigo escrito em abril e publicado em A Nova Democracia, nº 52, de maio deste ano, referi-me a diversas maneiras perversas de os causadores do colapso o aproveitarem para aumentar seu próprio poder. Uma é fazer dos direitos especiais de saque emitidos pelo FMI a nova moeda mundial. Outra é impingir de novo o FMI para reger a economia de países afetados pela devastação globalizante. Acentuei também o aparente paradoxo de os dois países mais endividados do Mundo, os EUA e o Reino Unido, ficarem livres da destrutiva intervenção da notória instituição “internacional”.
Ora, quem deseje sobreviver se deve manter longe do FMI e rejeitar qualquer moeda mundial que seja. Esse é o caminho que o Brasil tem de fazer, desatrelando-se das reservas em títulos dos EUA e outros em dólares, nacionalizando sua economia e governando-a sob desconcentração. Os que crêem nosso País menos atingido pelo colapso mundial não perdem por esperar. Desde já estão aí, nos últimos seis meses, quedas substanciais na produção, nas exportações e no emprego.
Adriano Benayon do Amaral é diplomata de carreira, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado Federal, na Área de Economia, aprovado em 1º lugar em ambos concursos. Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de ”Globalização versus Desenvolvimento”
abenayon@brturbo.com.br
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