sábado, 23 de maio de 2009

Inezita Barroso

Senhora da cultura da viola
Rosa Minine

Uma brasileira apaixonada pela sua terra, pela viola e pela verdadeira arte de seu povo, Inezita Barroso está sempre interessada em conhecer melhor, vivenciar e divulgar a cultura popular brasileira, sendo o principal motivo de há 22 anos lecionar "folclore brasileiro" em universidades de São Paulo, e a 29 apresentar o programa Viola, Minha Viola, que divulga a música caipira autêntica. Aos 84 anos de idade, essa grande cantora, instrumentista, atriz, folclorista, professora e apresentadora de rádio e de TV é um símbolo da resistência da música popular cultural brasileira.
Ignez Magdalena Aranha de Lima, a Inezita Barroso, nascida em uma família tradicional paulistana e formada em biblioteconomia pela USP, seguiu um destino diferente do traçado para ela e já na infância mostrava traços dessa sua personalidade, quando optava por ficar ouvindo os peões tocando viola nas fazendas de seus tios a participar da vida social da família nas férias.
— Comecei na música aprendendo violão, mas percebi que não gostava muito ou que não era bem o que eu queria, e fiquei buscando o que realmente me agradaria até o dia que olhei uma viola pela primeira vez. Ainda bem pequena viajava, todos os anos nas férias, para as fazendas dos meus tios, aí pelo interiorzão, e ficava só ouvindo viola a tarde inteira, os peões tocando aquelas violas maravilhosas, o que muito me encantava — lembra Inezita, que também estudou canto e piano.
— Eles não me deixavam tocar, porque diziam que 'menina não toca viola'. Uma bobagem e machismo sem sentido, mas um dia eu 'bati o pé', já com uns dez anos de idade e disse que queria tocar de qualquer jeito. Então um deles falou 'então toca aí, você não sabe tocar mesmo', mangando, e eu falei 'me dá aqui então, porque já aprendi só de olhar vocês tocando', peguei a viola toquei e cantei, e eles se renderam, dizendo: 'ué, pode tocar sim' (risos) — fala.
— Mesmo sabendo tocar e gostando muito, só fui poder comprar minha viola com dezesseis para dezessete anos, porque aqui em São Paulo era feio tocar viola, aquele velho preconceito contra o caipira, e eu fiquei muito chateada com isso. Nunca gostei de ver pessoas xingar caipira, dizendo que pessoa mal vestida é caipira, pessoa doente é caipira, então falei 'é por aí mesmo que eu vou (risos). Agora mesmo que eu vou defender o caipira, tocar viola e levá-la para a televisão' — continua.
A partir da década de 50 iniciou sua carreira no rádio, chegando a receber prêmios de melhor cantora, gravou muitos discos e documentários e viajou para vários países com seu repertório cheio de cultura brasileira. Também participou de filmes e televisão. A partir da década de 80 passou a se dedicar ao estudo do folclore brasileiro ministrando aulas em universidades, e tornou-se apresentadora do programa Viola, minha viola', pela TV Cultura de São Paulo.
— Levei a viola para a boate e toquei em casa noturna com Adauto Santos, um grande sucesso. Junto com outros defensores da nossa cultura fomos plantando cada vez mais para agora colhermos os frutos, e um deles é o fato de hoje ninguém mais xingar o outro de caipira, porque não é mais uma xingação, já que ninguém fica ofendido e sim tem um baita orgulho de ser caipira (risos), o caminho é esse — constata com alegria.
— E essa cultura maravilhosa está cada vez expandindo mais. Antigamente se dizia que só as pessoas mais velhas gostavam da viola, e hoje vemos muita gente moça tocando e aprendendo viola. As orquestras de viola, por exemplo, tem muita criança, uma delas, no Rio Grande do Sul, tem 60 % de crianças, e isso está se espalhando — acrescenta.
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