terça-feira, 14 de outubro de 2008

Infra-estrutura energética

“O linhão de Tucuruí vai dobrar nossa energia”

Antiga luta do senador José Sarney (PMDB-AP), o “Linhão de Tucuruí” continua sendo o principal assunto a ser destacado pela imprensa amapaense. O Diário do Amapá, por exemplo, ouviu o técnico paraense Marcos Drago, engenheiro elétrico e funcionário de carreira das Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte), que falou sobre a importância da obra para o desenvolvimento do Estado do Amapá. Segundo o técnico, haverá o aumento dos atuais 160 MVA (Mega Volts Amper) para algo em torno de 400 MVA até 2011, quando a obra deverá estar concluída - e em operação. Ele diz estar otimista de que isso vai representar uma redenção econômica para o Estado do Amapá, que poderá assim atrair indústrias para se instalarem aqui. Confira a entrevista:

Diário do Amapá - A Eletronorte também participou do certame licitatório ara a concessão da linha de transmissão de Tucuruí para o Amazonas e o Amapá. Mas agora que já temos a definição do certame, a Eletronorte poderá ser parceira do empreendimento?

Marcos Drago - Nós não temos essa confirmação se a Eletronorte será parceira da empresa que venceu a licitação da construção da linha de transmissão que vai levar a energia de Tucuruí para Macapá, mas há negociações para isso. Nós, funcionários da Eletronorte em Macapá estamos aguardando isso, pois vai influenciar em muito a definição do quadro de pessoal da empresa no Amapá em função dessa interligação através de uma outra empresa.

Diário - As primeiras informações são de que a linha de transmissão que vem de Tucuruí terá uma bifurcação no Pará, com uma parte da energia seguindo para Manaus e ou-tra para Macapá. Como isso será operacionalizado?

Marcos - É isso mesmo. A linha vai sair a partir da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, vai chegar até Jurupari, uma localidade no Estado do Pará, local onde faz a bifurcação para Laranjal do Jari e Macapá, assim como de Jurupari segue para Manaus. A linha tem essa característica, segue direto para Manaus, mas faz essa bifurcação na localidade de Jurupari e de lá entra no Amapá.

Diário - Então essa linha de transmissão está para ser construída, como se dá o lançamento dos cabos, a construção das torres?

Marcos - No último mês de julho aconteceu a licitação para a definição da empresa que irá realizar essa obra e levar a energia para Macapá e Manaus, dividida em três lotes, sendo que a empresa espanhola Hidrolux venceu os dois primeiros lotes, de Tucuruí até Xingu e do Xingu até Macapá. O terceiro lote vai do Jurupari até Manaus, foi vencido pelo Consórcio Amazonas, em que a Eletronorte participava. Após a licitação as empresas têm prazo de 36 meses para concluir a obra, ou seja, entregar já a linha em operação. Então nós vamos aguardar esse prazo, são três anos, que agora entra na parte de definição do projeto, que tem prazo de seis meses para apresentar o projeto da linha, licença ambiental para depois começar a obra propriamente dita, o que leva uns dois anos.

Diário - Pela sua experiência e pegando um gancho dessa ressalva feita pelo senhor sobre o licenciamento ambiental, o que pode dizer sobre o impacto ao meio ambiente? É muito considerável passar uma linha de transmissão pela floresta?

Marcos - Todo empreendimento dessa natureza causa impacto ambiental, mas os projetistas estão trabalhando com a possibilidade de em alguns trechos passar com a linha de transmissão por cima da floresta, para diminuir o impacto ambiental. Mas vamos passar também com a linha de transmissão em áreas não habitadas, aonde praticamente o homem não chega lá, causando impacto ao meio ambiente sim, mas para isso os técnicos estão trabalhando isso também junto aos órgãos ambientais.

Diário - A gente sabe que no ramo da geração de energia elétrica existe a questão da sazonalidade, ou seja, épocas em que os reservatórios de uma região ficam mais cheios enquanto em outras partes do país acontece o contrário. Com a interligação ao sistema nacional pode acontecer dessa energia fazer o caminho inverso?

Marcos - Interligando o sistema todas as empresas do Brasil têm condições de levar a energia até Macapá. Assim como a Eletronorte, através da geração na usina Coaracy Nunes, poderá oferecer essa energia para uma empresa lá do Rio Grande do Sul, São Paulo, qualquer lugar. Então a compra a venda de energia passa a ser feita com o mercado nacional de energia. No caso específico de Macapá, onde temos uma concessionária, a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), ela vai fazer uma licitação e a empresa geradora de energia que oferecer o preço mais barato passará a ser sua fornecedora.

Diário - Isso é possível, mesmo com a Eletronorte tendo a usina de Paredão aqui dentro do próprio Estado?

Marcos - A Eletronorte, como tem a concessão dessa energia, coloca no mercado, da mesma forma que a CEA poderá buscar energia no mercado, poder ser que a Eletronorte venha a oferecer essa energia a um custo menor, então essa energia ficaria aqui, mas pode ser que outra empresa de fora possa apresentar um custo menor, é raro acontecer isso, mas pode ser. Com relação à sazonalidade a que você se referiu anteriormente, devido a hidraulicidade do rio, que acontece no primeiro semestre, ou seja, a região Norte tem mais água e no segundo semestre a região Sul é que tem mais água, há o que chamamos de um balanço na geração de energia.

Marcos - Diria mais, ela acaba com os riscos de racionamento devido ao baixo nível do nosso reservatório. Esse é um dos grandes benefícios que a interligação trás. No período da chuva aqui, poderemos mandar a energia para o Nordeste e até o Sul do país, e nos períodos de estiagem aqui poderemos buscar essa energia lá fora.

Diário - Qual será a capacidade de transmissão de energia dessa linha que vem para Macapá?

Marcos - Essa linha será construída com um circuito duplo, ou seja, na mesma torre irão passar dois circuitos, cada um deles com capacidade para 200 MVA de energia; então vamos ter 400 MVA de energia chegando para Macapá e podendo ser transportados em sentido inverso.Diário - Essa medida MVA, representa exatamente o que?

Marcos - O "M" é de Mega, ou seja, um milhão; o "V" vem de "volts"; o "A" vem de Amper, então é um milhão de volt-amper, então serão quatrocentos milhões de volt-amper. Em nossa casa, por exemplo, temos 110 volts-amper, para efeito de comparação. Volt é a tensão e amper a corrente.

Diário - Essa potência então de 400 MVA de energia, seria o suficiente para abastecer a cidade de Macapá, que tem hoje algo próximo a 400 mil habitantes, por quanto tempo?

Marcos - Hoje Macapá está consumindo em torno de 160 MVA, com uma taxa de crescimento de 10 MVA ao ano que cresce a cidade, chegaremos daqui a dois anos a 180 MVA mais ou menos, então significa dizer que esses 400 MVA representaria duas vezes a demanda do Amapá daqui a dois anos.

Diário - Então realmente podemos comemorar essa notícia, pois a energia chega em uma boa hora, já que o setor industrial do Amapá começa a dar sinais de incremento não é mesmo? Como técnico e como cidadão amapaense, o senhor está otimista?

Marcos - Exatamente. Teremos oferta de energia para duas cidades de Macapá. Isso nos deixa bastante otimistas, pois uma região depende para o seu desenvolvimento exatamente da geração de energia elétrica. Qualquer região tem que ter potencial, mas isso não basta sem oferta de energia elétrica, pois esse potencial não consegue aflorar. Nós no Amapá temos esse potencial, temos essa saída para o Norte, para a Europa através das Guianas, ficamos mais próximos da América do Norte, os Estados Unidos, então com energia elétrica temos condições de recebermos indústrias de grande porte em nosso estado, fazer o beneficiamento de várias matérias-primas e exportar isso, melhorando a qualidade de vida da nossa população, dando condições de fazer o desenvolvimento da educação, do esporte, do lazer, isso é fundamental, estou esperançoso de que com a chegada da energia elétrica.

Sarney fala sobre sua luta pela energia do Amapá


"Linhão de Tucuruí": elemento de integração e desenvolvimento
José Sarney

Schopenhauer, o pessimista, dizia que a riqueza assemelha-se à água do mar: quanto mais se bebe dela, mais sede se tem. E quando a riqueza produzida é apenas papel pintado, sem lastro na economia real, a sede por riquezas concretas, por bens tangíveis, é ainda maior. É o que está ocorrendo com o atual derretimento das bolsas em todo o mundo. Os países hoje hegemônicos estão se dando conta de que a crise financeira é também uma crise econômica. E a economia real depende de investimentos em energia, por exemplo. Neste cenário, segundo analistas do Banco Mundial, países como o Brasil, ricos em recursos naturais e energia, terão melhores condições de enfrentar a situação do que aqueles que apostaram tudo na especulação financeira global. Tudo dependerá apenas de decisão e coragem, capacidades que Lula vem demonstrado ter de sobra. Sem deixar de se preocupar com a estabilidade e mantendo as bases sólidas da política econômica, o Presidente está garantindo que os investimentos produtivos previstos pelo PAC sejam efetivados. Dia 08, por exemplo, foi publicado no Diário Oficial da União o decreto outorgando a concessão para a construção do "Linhão Tucuruí-Manaus-Macapá", obra que possibilitará a total substituição da geração termelétrica em Manaus e Macapá, proporcionando economia com combustíveis derivados de petróleo, com reflexos importantes no controle da poluição e na redução do recolhimento da Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis – CCC (que engloba encargos atualmente pagos sob a forma de subsídios pelos consumidores de todo o país). Segundo cálculos da Aneel, quando o "Linhão" entrar em operação, haverá redução de R$ 1,5 bilhão por ano nos gastos a CCC. Economia que permitirá investimentos na utilização do gás proveniente do urucum como alternativa aos combustíveis fósseis. A extensão do linhão de Tucuruí deve atingir 2,6 mil quilômetros entre Manaus e Macapá com capacidade de 730 mil voltz (KV na unidade de medida para alta tensão). O sistema, que hoje é isolado do SIN – Sistema Integrado Nacional -, estará 80% conectado ao sistema elétrico do país. Serão 1.829 quilômetros ao longo da Floresta Amazônica. Nesta travessia as torres de transmissão deverão ter mais de 280 metros de altura, equivalente a um prédio de 72 andares ou a uma ponte Golden Gate, localizada na baia de São Francisco (EUA), que tem 227 metros de altura. Serão necessárias, segundo estimativas, cerca de 1.000 toneladas de ferro por torre. Para a construção da torre Eiffel, por exemplo, foram utilizadas 7.300 toneladas. Serão 28,6 mil empregos diretos para a construção. E problemas como a instalação plena da "banda larga" no Amapá poderão encontrar solução definitiva, pois as linhas de transmissão de energia servirão, também, para a instalação de linhas de comunicação. Mas, o mais importante desta obra monumental do Presidente Lula é a possibilidade de solução definitiva dos problemas enfrentados por regiões fronteiriças, como o Oiapoque, que hoje dependem das termelétricas.

Artigo publicado no Diário do Amapá

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