domingo, 2 de novembro de 2008

Entrevista

CARLOS LESSA: "Vou horrorizar os jovens economistas. Sou favorável a centralizar o câmbio"

Em entrevista à Carta Maior, o economista defende a redução dos juros e o aprofundamento do PAC, sobretudo em investimentos sociais e na geração de emprego. Para o ex-presidente do BNDES, o governo deveria também centralizar o câmbio. "Nós temos que reforçar nossas defesas. Se perdermos 50 bilhões e tivermos, em 2009, uma balança comercial altamente deficitária, as reservas brasileiras acabam".Para o economista Carlos Lessa, a análise das conseqüências que a crise financeira internacional pode ter sobre a economia brasileira é uma grande aula. Nesta entrevista à Carta Maior, Lessa aponta os possíveis caminhos para que o Brasil possa minimizar os efeitos da falta de crédito mundial nos setores produtivos locais, afirma que o PAC é o grande trunfo sobre a crise e projeta a centralização do câmbio no país. “A idéia do planejamento não é a idéia de uma economia de mercado: planejar é construir o futuro que você deseja pessoalmente enquanto a economia de mercado pensa no futuro que será bom para o mercado”, defende. Ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Lessa acredita que importante para o Brasil é discutir o futuro, especialmente porque “todos os projetos de infra-estrutura de grande porte são públicos”. Autor de dezenas de livros e artigos especializados, Lessa integrou as equipes do Instituto Rio Branco, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe e do Instituto Latino-Americano e do Caribe de Planificação Econômica e Social, além de ter atuado em instituições do Chile, Nicarágua e El Salvador.



Carta Maior – A atual crise vem se estruturando desde quando?

Carlos Lessa – A crise do capitalismo é, na verdade, mais antiga que o próprio capitalismo industrial. Se nós formos olhar para o passado, encontraremos a famosa crise holandesa cujo estopim foi o preço da tulipa. Montou-se uma especulação colossal com as tulipas e a lenda é de que um marinheiro entrou numa casa onde estavam dois bulbos de uma tulipa hiper valiosa e as comeu, achando que eram duas cebolas. O fato gerou uma crise de confiança tal que houve uma quebra da bolha especulativa que havia se montado na Holanda do século 17. As crises que nos interessam mais, no entanto, são aquelas que surgiram depois que o capitalismo industrial se instalou. É famosa a crise que vai de 1870 até 1893, que marca o início do declínio inglês e só se resolve, de certa maneira, na I Guerra Mundial. A grande depressão de 1929, que atravessou todos os anos 30, só foi superada com a reanimação da economia mundial com a II Guerra Mundial. "Toda crise é um produto histórico único. As crises não se repetem, elas se sucedem".


Carta Maior – As comparações com a Grande Depressão têm pipocado em muitas análises de economistas e na mídia. É correto traçar esse paralelo?

CL – Nós estamos vivendo uma crise com as mesmas proporções dessas crises do passado, porém é necessário entender que toda a crise é um produto histórico único. As crises não se repetem, elas se sucedem. Em benefício ao entendimento, eu gostaria de lembrar que, quando termina a II Guerra Mundial, há uma conferência regulatória das finanças mundiais, Bretton Woods. Ali é derrotada a sugestão de Lord Keynes de uma moeda reserva internacional gerida por um sistema plurinacional de administração. E é adotado o dólar, que se propõe a ser a reserva internacional com um argumento pragmático e altamente contundente de que, naquele momento, 90% das reservas do mundo estavam nas mãos do Tesouro norte americano e, por conseguinte, sendo o dólar conversível em ouro numa paridade definida, estava simplesmente restaurado o ouro como fundamento último de confiança das finanças internacionais em reconstrução. Em 1971, numa manobra unilateral, o Governo norte americano cancelou a conversibilidade do dólar e, a partir desse momento, o dólar virou o valor oficial de sustento.

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