segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Entrevista com o senador José Sarney


“O Brasil está preparado para enfrentar a crise”


Um dos homens mais influentes da República, o senador pelo Amapá e ex-presidente, José Sarney (PMDB/AP), está mais uma vez no foco da imprensa brasileira diante da possibilidade de vir a assumir novamente a presidência do Senado Federal, coisa que ele insiste em pedir “dispensa”. Na semana que antecedeu ao Natal, Sarney mais uma vez reuniu os amigos, autoridades e a imprensa para o seu tradicional jantar de confraternização de fim de ano. Na oportunidade, mostrou otimismo em relação ao futuro do Amapá e do País, mesmo diante do cenário de crise mundial. Sarney falou ao Diário do Amapá sobre a popularidade do presiente Lula e do futuro que se desenha para a política brasileira com as propostas da reforma política a ser discutida no Congresso Nacional em 2009.

"Já tomei uma posição, já disse que não quero a presidência, pois já fui duas vezes e
dessa vez pedi para que me dispensassem dessa função"



Diário do Amapá - O fim do ano se aproxima, o Congresso Nacional agora está de recesso e o senhor o que pode dizer sobre o que foi o ano de 2008 para o Amapá?

José Sarney - Olha, diria que foi mais um ano bom, com certeza, pois avançamos em algumas obras de infra-estrutura que nos são muito valiosas, o que nos credencia a caminhar a passos largos rumo ao desenvolvimento que os políticos perseguem e a população tanto espera para o Amapá.

Diário - O senhor é considerado um homem otimista, mas em tempos de crise econômica dá para continuar sendo assim?

Sarney - Pensamentos negativos atraem coisas negativas, logo sigo pensando positivamente com relação ao nosso querido Amapá, para que assim possamos atrair boas coisas para o Estado. É lógico que a crise mundial preocupa, mas se a gente entregar os pontos aí mesmo é que as coisas não irão para frente.

Diário - Mas o que o senhor pode dizer sobre essa crise? O pior já passou?

Sarney - Trata-se de uma grande crise, que não foi gerada no Brasil, veio do exterior para cá, mas o Brasil está preparado para enfrentá-la de modo que nós tenhamos conseqüências bem menores.

Diário - Que mensagem o senhor procurou transmitir durante o tradicional jantar de
confraternização Natalina em Macapá?

Sarney -
Nós realizamos na semana passada a nossa confraternização de final de ano e, como costumo fazer, reunimos não apenas os amigos, as autoridades, mas também a imprensa falada, escrita e televisionada, para festejarmos o ano que Deus nos deu a graça de ter e desejar ao mesmo tempo em que o próximo ano traga grandes felicidades e venturas para todos nós.

Diário - A questão da sucessão no Senado Federal mais uma vez contou com o seu nome sendo protagonista de uma enorme expectativa em torno de sua volta à presidência da Casa. Essa é uma questão resolvida?

Sarney - Eu tenho recebido muitas manifestações para que aceite ser presidente, agora como unanimidade entre oposição e o governo, num apelo para que eu aceite, mas evidentemente que já tomei uma posição, já disse que não quero a presidência, pois já fui duas vezes e dessa vez pedi para que me dispensassem dessa função.

Diário - Mesmo assim lideranças políticas expressivas e até setores da grande imprensa ainda não descartam sua volta à presidência do Senado...

Sarney - Eles ainda falam bastante a respeito, mas a sucessão do Senado Federal depende decisivamente da decisão que o nosso partido, o PMDB, pode tomar daqui por diante, diante da minha manifestação de não disputar essa eleição.

Diário - O Partido dos Trabalhadores teria de fato se manifestado no sentido de não abrir mão da presidência do Senado, enquanto o PMDB ficaria com a direção da Câmara dos Deputados?

Sarney - Não houve participação nesse sentido, da Mesa Diretora do Senado ficar com o PT no acordo que fizeram na Câmara dos Deputados. Mesmo porque o Senado tem a sua independência para seguir o seu caminho.

Diário - O ano de 2008 foi um ano de eleições municipais e o senhor participou ativamente da eleição na Capital, além de apoiar alguns aliados indiretamente no interior. Qual sua expectativa com relação a atuação dos prefeitos?

Sarney - Foi uma grande lição de democracia o resultado da última eleição. Em Macapá principalmente, onde devo louvar a decisão do governador Waldez em garantir que os partidos aliados pudessem concorrer em igualdade de condições a disputa pela Prefeitura. No segundo turno eu manifestei meu apoio irrestrito ao prefeito Roberto Góes, pois representa esse grupo que hoje ajuda o Amapá a se desenvolver e do qual faço parte.

Diário - O senhor já teve contato com ele depois de eleito?

Sarney - Sim, várias vezes, temos conversado bastante e coloquei à sua disposição toda a nossa estrutura em Brasília, falando inclusive em nome da bancada federal, que permanece unida e mobilizada quando o assunto é garantir dias melhores para nosso Estado.

Diário - Fez algum pedido em particular aos prefeitos eleitos e reeleitos?

Sarney - Que tenham o máximo de zelo com a organização administrativa das prefeituras, pois quando um município cai na inadimplência tudo fica mais difícil em Brasília. Prejudica um trabalho do ano inteiro, desde o ano anterior, com a definição das emendas, passando pela discussão e elaboração dos projetos, acompanhamento técnico, mobilização junto aos ministérios e até junto à Presidência da República.

Diário - Por falar nisso, como está o relacionamento com o presidente Lula, no que se refere aos assuntos do Amapá?

Sarney - Sempre que estou com ele, o presidente pergunta com estão as coisas por aqui. Ele tem uma grande estima pelo Estado e pelos amapaenses, pois reconhece a importância estratégica que temos, na foz do Amazonas e na entrada da Amazônia. Ele também não esquece do peixe que experimentou e está sempre disponível.

Diário - E sobre os índices de popularidade dele? O senhor chega a falar disso com ele?

Sarney - Ele é um fenômeno de popularidade, de aceitação popular, pois fez a opção pelo social, pelos mais pobres, assim como fiz durante o meu governo. Ele faz isso sem pieguice, faz porque tem origens humildes e conhece a realidade das camadas mais populares.

Diário -
Mas daí a se costurar um terceiro mandato para Lula vai uma distância muito grande não é mesmo?

Sarney - O presidente é um democrata e já se manifestou contra o terceiro mandato. Entendo que a opinião pública também é contra. Acho que qualquer decisão sobre a reforma política como se especula, fim da reeleição, eleições gerais, só deve ter efeitos para o próximo governo que vier a suceder ao do presidente Lula.

Diário do Amapá

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